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Opinião

O impacto da transição energética na economia angolana

CONVIDADO

As preocupações dos angolanos sobre uma futura crise económica derivam principalmente da forte dependência do país do sector petrolífero, agravada pelas oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional. Diante disso, torna-se urgente encontrar novas fontes de receita para reformar a economia do país. Como o consumo de energia cresce com o desenvolvimento das sociedades, o sector energético tornou-se essencial para o desenvolvimento económico e social. Assim, Angola precisa de apostar no sector eléctrico para estabilizar e modernizar a sua economia. Embora o sistema híbrido nuclear-renováveis exija grandes investimentos, a sua implementação gradual poderá ser viabilizada por receitas actuais do sector petrolífero.

Actualmente, o mundo vivencia a terceira transição energética. No passado, sociedades pré-industriais dependiam da biomassa e lenha como principais fontes de energia, utilizadas principalmente para aquecimento e cocção. Mas, à medida que essas sociedades se desenvolviam, o que demandava uma fonte de energia mais densa e eficiente para alimentar máquinas e processos industriais, surgiu a necessidade de diversificar as matrizes energéticas dessas sociedades, o que levou à introdução do carvão como fonte predominante, marcando a primeira transição energética(1). Mais tarde, o carvão foi gradualmente substituído pelo petróleo e gás natural, dando início à segunda transição energética. Esta substituição foi motivada pela maior densidade energética do petróleo, facilidade de transporte e maior flexibilidade em relação ao carvão. Assim, essas duas primeiras transições foram impulsionadas, não apenas pelo aumento do consumo de energia, mas também pela busca por fontes mais acessíveis e rentáveis(1).

A transição energética actual é motivada pela necessidade de produzir energia eléctrica de forma sustentável, minimizando os impactos ambientais e cumprindo os acordos climáticos internacionais(2). Os efeitos catastróficos das alterações climáticas sobre o meio ambiente são causados pelas emissões dos Gases de Efeito Estufa (GEE), especialmente o dióxido de carbono (CO2). O CO2 reduz a capacidade da Terra de regular a sua temperatura média, provocando o aquecimento global. No entanto, os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) são os principais emissores destes gases devido à sua utilização no sector eléctrico e no sector dos transportes(3). Desta forma, o principal objectivo da actual transição energética é substituir gradualmente os combustíveis fósseis por fontes com baixíssimas emissões de CO2, como as fontes renováveis e a energia nuclear, o que exige investimentos e capital humano qualificado. Portanto, esta transição actual apresenta tanto oportunidades quanto desafios para a economia angolana, especialmente no contexto de diversificação económica e segurança energética(2).

Vantagens da transição energética para a economia angolana

A transição energética tem potencial para impulsionar o desenvolvimento económico e social de Angola. As revoluções tecnológicas mudaram a forma como produzimos energia, permitindo a passagem de uma economia agrária para uma economia mais industrializada(2). Hoje, a transição requer tecnologias de baixo carbono, como a tecnologia renovável e nuclear, redes eléctricas modernas, capacitação técnica e um aproveitamento eficiente dos recursos naturais. Uma das maiores vantagens nesta transição é a garantia de uma segurança energética, essencial para a industrialização, serviços e o consumo doméstico. As perdas de postos de trabalho no sector dos combustíveis fósseis podem ser recompensadas pela criação de novos empregos no sector energético sustentável.

Em Angola, os sinais da transição energética já são visíveis. Em 2024, 65% da electricidade foi gerada a partir de fontes renováveis, com destaque para a fonte hidroeléctrica, que representou 60,5%, superando os combustíveis fósseis com cerca de 34,4%(4). No entanto, fontes de energia renováveis isoladamente não garantem segurança energética ao país devido à sua intermitência. Por isso, decorre dessas limitações, a necessidade de se considerar a energia nuclear no mix de energia nacional. Esta tecnologia não emite GEE durante a produção de electricidade e gera electricidade 24h por dia e 7 dias por semanas continuamente(5). Um sistema híbrido nuclear-renováveis é, portanto, uma solução estratégica eficaz nesta transição. Este sistema reforça a segurança energética ao país, reduz o consumo interno do petróleo, aumenta as exportações deste hidrocarboneto e posiciona a Angola como uma potência energética em África.

A economia angolana depende fortemente do sector petrolífero, responsável por cerca de 90% das exportações do país(2). No entanto, a implementação do sistema híbrido nuclear-renováveis ajudará o país a enfrentar as oscilações do preço do petróleo no mercado internacional e o esgotamento futuro deste recurso não renovável. A diversificação económica baseada neste sistema é, portanto, uma medida necessária e rentável para mitigar os riscos de futuras crises económicas(6).

Desafios da transição energética para a economia angolana

Apesar das vantagens, os desafios económicos são significativos. A integração do sistema híbrido em Angola exige reaproveitamento e construção de infraestruturas capazes de agilizar e facilitar a inserção de tecnologias de baixo carbono para a produção de energia, além da modernização das redes eléctricas e da capacitação do capital humano adequado(6). No entanto, a construção de centrais hidroeléctricas, nucleares e a instalação de parques solares e eólicos exigem altos investimentos que são possíveis a partir de uma cooperação entre o sector público e privado.

As preocupações dos angolanos sobre uma futura crise económica derivam principalmente da forte dependência do país do sector petrolífero, agravada pelas oscilações dos preços do petróleo no mercado internacional. Diante disso, torna-se urgente encontrar novas fontes de receita para reformar a economia do país(6). Como o consumo de energia cresce com o desenvolvimento das sociedades, o sector energético tornou-se essencial para o desenvolvimento económico e social(1). Assim, Angola precisa de apostar no sector eléctrico para estabilizar e modernizar a sua economia(6). Embora o sistema híbrido nuclear-renováveis exija grandes investimentos, a sua implementação gradual poderá ser viabilizada por receitas actuais do sector petrolífero.

Leia o artigo integral na edição 824 do Expansão, de sexta-feira, dia 02 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

**Osvaldo Agostinho de Almeida, Físico nuclear e investigador

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