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Opinião

O que se espera do pós-Paris? Nada sustentável

Convidado

Assistimos mais uma vez a um engalanar de retratos na galeria de Paris, em detrimento das nossas, com líderes africanos a exibirem-se como se no paraíso estivessem. Se calhar! Quando as nossas galerias estão empoeiradas e contaminadas com todo o tipo de vírus maligno.

Na Cimeira França-África, onde estiveram presentes 20 líderes africanos, chefes de estados europeus, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e a UE (União Europeia), com o objectivo de alocar aos países africanos cerca de 100 mil milhões de dólares, Macron assegurou que a França, Portugal e vários outros países presentes na cimeira, estão prontos a ajudar e irão convencer outros países a fazer o mesmo esforço, a começar pelos EUA (Estados Unidos da América).

Paris não é exemplo, face ao tratamento mesquinho que até hoje dá às suas ex-colónias. Lembramos que foi em Agosto de 1960 que 14 colónias obtiveram as suas independências; Benim, Burkina Faso, Camarões, Chade, Congo- -Brazzaville, Madagáscar, Mauritânia, Gabão, República Centro- -Africana, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal e Togo. Mas, volvidos anos, estes países não têm uma "verdadeira independência e liberdade" da França. Como sempre, influenciados pelos interesses privados das elites, e como resultado o fracasso delas.

Focando-me nos EUA; em 1865 entra em vigor a 13ª Emenda, que abole a escravatura, mas, de 1880 a 1910, aprovam as leis de Jim Crow (nome pejorativo que chamavam os negros), que promovem e asseguram a segregação e a inferioridade política, económica e social dos negros (africanos), retirando-lhes também o direito do voto por anulação de restrições legais e práticas, e outras acções de pressão em seu desfavor, o que veio a acontecer noutras paragens (como na Europa) onde se encontravam negros escravos vindos de África e seus descendentes pelo mundo.

Daí a pergunta que não se quer calar. Que abordagens profundas se agendam nestes encontros, senão o tema da compensação sobre o tráfico de escravos? Foi assim com os de Hiroxima e Nagasaki, com os do Holocausto dos Judeus. Compensados até hoje. Têm batalhado pelas injustiças impostas, havendo compensações, dando-lhes protecção, tanto social, económica como financeira aos seus descendentes. E nós? Se não agendam estes temas nos "vossos" encontros, quiçá por cumplicidade, quem o fará?

Muitas intenções fracassadas ou com frouxa intensidade, face às mutações ocorridas em que as nações que se propuseram em nos acudir, tiveram de desviar o foco para atender as suas preocupações. Como evidência, cito Lynda Iroulo, do Instituto GIGA de Estudos Africanos quando num encontro entre a comitiva da União Africana e da União Europeia disse que "as relações entre África e Europa nunca foram um negócio justo, afirmando mesmo que esta relação ainda está enviesada por uma espécie de relação entre o superior e o inferior, em que a Europa assume a posição de um mentor e África a de um pupilo".

*Economista e docente universitário

(Leia o artigo integral na edição 631 do Expansão, de sexta-feira, dia 2 de Julho de 2021, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

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