Papel do turismo no desenvolvimento da economia em Angola
O sector de turismo, em particular, enfrenta desafios significativos que precisam ser abordados. A infraestrutura de transporte deficiente cerceia o acesso às estonteantes paisagens naturais e culturais do país, enquanto a percepção de insegurança, um legado da guerra civil, desencoraja potenciais visitantes.
O turismo é amplamente reconhecido como um motor de crescimento económico sustentável, gerando receitas, empregos e fomentando a inclusão social. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), o sector contribui com cerca de 10% do PIB global e 7% das exportações mundiais, destacando-se como um dos principais impulsionadores de desenvolvimento em economias emergentes.
Após a independência em 1975, Angola mergulhou numa guerra civil que se prolongou até 2002, resultando em danos severos à infraestrutura e obstando o desenvolvimento de sectores cruciais, como a agricultura, a indústria e o turismo. Embora o governo tenha implementado esforços significativos na reconstrução, o progresso foi desigual, especialmente nas áreas remotas. Desde então, o petróleo tornou-se a espinha dorsal da economia angolana, representando cerca de 90% das exportações, 75% das receitas fiscais e 60% do PIB em períodos de preços elevados. Contudo, essa dependência expôs a economia a riscos consideráveis, como evidenciado pela crise de 2014-2016, quando o preço do barril despencou de mais de 100 USD para menos de 30 USD. Este colapso económico levou a uma queda abrupta e acentuada nas receitas, aumento da dívida, desvalorização do kwanza e inflação desenfreada, afectando gravemente o poder de compra e os serviços essenciais, como saúde e educação, exacerbando problemas sociais.
Esse cenário alarmante destacou a vulnerabilidade que resulta da dependência excessiva de um único recurso, levando o governo angolano a considerar reformas estruturais para diversificar a economia e atrair investimentos estrangeiros. A experiência de Angola ilustra a premência da diversificação económica e a implementação de políticas sociais que possam esboroar os impactos negativos sobre a população.
O sector de turismo, em particular, enfrenta desafios significativos que precisam ser abordados. A infraestrutura de transporte deficiente cerceia o acesso às estonteantes paisagens naturais e culturais do país, enquanto a percepção de insegurança, um legado da guerra civil, desencoraja potenciais visitantes. A falta de infraestrutura turística adequada, como hotéis e restaurantes, compromete a expansão sustentável do sector. No entanto, esses desafios também se configuram como oportunidades. Investir em infraestrutura, especialmente em transporte e acomodações turísticas, pode facilitar o acesso a destinos e impulsionar o sector. Campanhas de marketing que melhorem a percepção de segurança são essenciais, destacando as melhorias realizadas desde o término da guerra. O desenvolvimento de um turismo sustentável e cultural pode proporcionar experiências autênticas, impelir o desenvolvimento local e melhorar a imagem de Angola como um destino turístico viável. Parcerias público-privadas podem acelerar o desenvolvimento da infraestrutura e dos serviços turísticos, atraindo um número crescente de visitantes e gerando empregos locais.
Angola possui uma vasta gama de atracções naturais, incluindo o Parque Nacional da Kissama, as Cataratas de Kalandula e as praias da costa Atlântica, que oferecem um potencial enorme para o ecoturismo e o turismo de aventura. Essa diversificação é crucial para coarctar a vulnerabilidade do país às flutuações dos preços do petróleo e promover um crescimento sustentável e inclusivo.
Além disso, ao comparar Angola com outros países africanos que conseguiram capitalizar as suas indústrias de turismo, como Namíbia e Botsuana, evidencia- -se um grande potencial de crescimento. A Namíbia, por exemplo, investiu fortemente no seu sector turístico, promovendo as suas paisagens desérticas e biodiversidade e, desde os anos 90, implementou políticas de conservação e ecoturismo que empoderaram as comunidades locais. Essa abordagem resultou numa contribuição do turismo de aproximadamente 10,9% do PIB namibiano, gerando cerca de 100.000 empregos directos. O Botsuana, por sua vez, destaca- -se pelas suas políticas sustentáveis de conservação e turismo de luxo, contribuindo com cerca de 11,5% do PIB e empregando directamente aproximadamente 76.000 pessoas. Se Angola emular tais políticas de desenvolvimento turístico, a sua contribuição para o PIB poderá crescer significativamente, atingindo potencialmente entre 10% e 15% num horizonte de 30 anos.
Para assegurar esse crescimento, Angola deve priorizar investimentos em infraestrutura, educação, capacitação, promoção internacional e sustentabilidade. Os projectos de infraestrutura devem incluir a modernização de aeroportos, portos e estradas, além de melhorias em sistemas de energia e saneamento. Programas de capacitação são essenciais para preparar a força de trabalho para o sector de serviços turísticos, enquanto uma estratégia de marketing global deve posicionar Angola como um destino turístico seguro, diversificado e certo. O desenvolvimento do turismo deve ser pautado pela sustentabilidade, garantindo a preservação dos recursos naturais e culturais.
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