Perspetivas económicas globais e a encruzilhada de Angola na África Subsariana – Quo vadis 2025 et 2026?
Enredada numa teia intrincada de obrigações financeiras, Angola enfrenta severas restrições ao seu espaço fiscal, numa luta desigual entre elevados níveis de endividamento externo e os crescentes custos de financiamento. Ainda que pequenos avanços tenham sido feitos na gestão da dívida, o país continua a navegar em mares revoltos, onde a capacidade de implementar políticas públicas expansionistas se vê asfixiada.
No vasto e polícromo mosaico da África Subsariana (ASS), onde os horizontes económicos se desenham com pinceladas de resiliência e tons sombrios de adversidade, os ventos do progresso sopram de forma irregular, traçando caminhos incertos entre o fulgor das oportunidades e as sombras das limitações. Neste cenário de contrastes, o World Bank Group (2025), no seu relatório de janeiro, Global Economic Prospects, oferece uma análise perspicaz, iluminando as dinâmicas económicas de uma região que se debate entre os grilhões da dependência estrutural e os sopros de um crescimento incipiente. É um retrato vibrante de uma terra resiliente, onde cada indicador revela tanto as cicatrizes do passado quanto os alicerces para um futuro promissor. O ano de 2024, ainda que marcado por uma recuperação para 3,2% no crescimento regional face aos 2,9% de 2023, evidencia um cenário de contrastes profundos. As duas maiores economias do continente, Nigéria e África do Sul, mantêm-se enredadas nas suas próprias limitações, crescendo a uma média de apenas 2,2%, enquanto as economias menores alcançam um vigoroso crescimento de 4%, desafiando a volatilidade global e os seus próprios constrangimentos internos. Angola, posicionada como uma estrela hesitante num céu pontuado por constelações mais luminosas, projeta um crescimento estimado de 3,2% em 2024, recuperando-se do tímido 1% de 2023, mas estabilizando-se em 2,9% em 2025 e 2026. Contudo, o seu progresso permanece um eco distante do dinamismo demonstrado por outros países da região que não dependem exclusivamente de recursos naturais, cujas projeções para 2025- -2026 ultrapassam os 5,3%. Este contraste denuncia as profundas amarras estruturais que cerceiam o potencial angolano, transformando as suas vastas riquezas naturais num peso que condiciona o seu crescimento sustentável.
Inflação e impacto cambial: O fado do Kwanza
No âmago das dificuldades económicas angolanas repousa o Kwanza, cuja desvalorização contínua emerge como uma sombra que encarece importações vitais, especialmente de alimentos, perpetuando a vulnerabilidade alimentar da sua população. O poder corrosivo desta espiral cambial reflete-se na erosão do poder de compra das famílias e no alargamento das desigualdades sociais. Em contraste com algumas economias da ASS que começam a beneficiar de um abrandamento inflacionário e de políticas monetárias mais flexíveis, Angola permanece presa a uma encruzilhada, onde a inflação elevada corrói a confiança dos consumidores e das empresas, amplificando as fragilidades estruturais do país.
Dívida pública e espaço fiscal: O peso do endividamento
Enredada numa teia intrincada de obrigações financeiras, Angola enfrenta severas restrições ao seu espaço fiscal, numa luta desigual entre elevados níveis de endividamento externo e os crescentes custos de financiamento. Ainda que pequenos avanços tenham sido feitos na gestão da dívida, o país continua a navegar em mares revoltos, onde a capacidade de implementar políticas públicas expansionistas se vê asfixiada. A solução, ainda distante, parece repousar numa gestão orçamental mais rigorosa, na reestruturação das obrigações financeiras e, sobretudo, num compromisso político com a consolidação fiscal.
Angola no contexto regional: A urgência da convergência
Enquanto África Subsariana caminha para consolidar um crescimento de 4,1% em 2025 e 4,3% em 2026, Angola deve enfrentar o desafio de convergir com os seus pares mais dinâmicos. O contraste com economias emergentes da região que já colhem os frutos da diversificação evidencia a necessidade urgente de Angola romper com a dependência de um modelo económico baseado em recursos.
Nos gráficos apresentados, emerge um panorama multifacetado da África Subsariana (ASS), onde os indicadores económicos traçam a cadência de uma região que luta entre os espinhos da adversidade e os sopros tímidos de recuperação.
A. Índices de Gestores de Compras (Purchasing Managers" Index - PMI): O pulso do comércio
O Índice de Gestores de Compras, qual termómetro das atividades económicas, reflete uma oscilação marcada por incertezas. Observa-se um movimento flutuante ao longo do período, com a média ponderada pelo PIB a posicionar-se abaixo da linha de expansão (50 pontos), sugerindo um abrandamento nas atividades comerciais. A Nigéria e África do Sul exibem trajetórias desiguais: a primeira, marcada por impulsos ocasionais de dinamismo no setor dos serviços; a segunda, dominada pelos entraves estruturais de um tecido económico fragilizado.
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