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Opinião

Cidadão CPLP

Editorial

A CPLP é pouco mobilizadora. Importante para as elites, mas perfeitamente desconhecida para a maioria da população. Uma organização que raramente entra nos discursos dos governantes fora destes momentos especiais como a realização de cimeiras.

Tem algumas explicações. Para uns trata-se de um resquício do colonialismo, para outros uma oportunidade de perpetuar um "status quo" que se perdeu com os ventos dos novos tempos.

Para uns a oportunidade de fazer uns negócios, umas consultorias, ganhar uns milhares de dólares sem grande esforço, para outros a possibilidade de transferir uns dinheiros para uma economia mais estável, onde não fazem muitas perguntas, mas que permitem ostentar a nossa "fezada".

Tudo isto era feito ao nível das elites, no andar superior, em gabinetes onde existe direito de admissão, até porque se a sala fosse mais aberta, não tinha o mesmo impacto na vida dos que andam por esses corredores. De vez em quando organizavam-se uns espectáculos, realizavam-se umas conferências, dos artistas toda a gente gosta, e infelizmente foi assim durante demasiado tempo. Os envolvidos ganharam qualquer coisa, a maioria das pessoas nem prestou atenção.

Já há uns anos que parece haver uma tentativa de baixar a CPLP à vida real, embora estejamos a falar disso, tentativas. A primeira questão que se deve colocar de uma forma aberta é o que cada membro pode ganhar. Não há mais essa coisa de fazermos parte de um grupo só porque falamos a mesma língua. Até porque se for necessário aprendemos outra. Não vale a pena invocar experiências comuns, até porque em determinados momentos foram momentos de grande conflito, ou falar em culturas com as mesmas raízes, o que não é verdade.

O momento, aproveitando esta crise porque todas passam, é de ter coragem de tomar medidas que "mexam" com uma larga faixa da população. Repare-se que em todas as medidas que podiam ser mais ousadas, fala-se muito mais dos receios de cada um e dos perigos que representa do que das vantagens que isso pode significar. Não se pode falar numa casa única e depois ser precisa uma autorização escrita para entrar num dos quartos. Mas nem todos precisam desse passe, porque alguns, devido ao seu estatuto e função, podem andar livremente por todos os corredores. Têm uns passaportes de outras cores.

Resumindo, enquanto não houver livre circulação de pessoas e bens entre todos estados membros, obedecendo a regras que terão de ser comuns e aceites por todos, parece-me difícil que possamos falar de uma comunidade da língua portuguesa. Temos que confiar uns nos outros e derrubar os dogmas.