Correu mal
Resumindo, em termos económicos, o ano correu mal. A política económica escolhida não está a resultar, e não há outra forma de dizer isto. Mesmo que se queira "dourar a pílula"
Na perspectiva económica, o ano de 2024 correu muito mal. Não há outra forma de dizer isto, mesmo que exista a vontade de se "dourar a pílula", isto quando a taxa de inflação homóloga aumenta quase 8 pontos percentuais face ao final de 2023, ao passar de 20% para 28%, o kwanza desvaloriza cerca de 10% face ao dólar, passou de 828,8 Kz para 915,2 USD, e a taxa de juro de referência do BNA aumentou 1 ponto percentual ao passar de 18,5% para 19,5%. A isto juntamos o facto de as Reservas Internacionais terem encolhido 130 milhões USD, desde Dezembro do ano passado, e de a previsão para o crescimento, ligeiramente acima dos 3%, ser similar ao crescimento demográfico.
Mas juntemos também o facto de o ambiente de negócios não ter melhorado, de Angola ter voltado a entrar na "lista cinzenta" do GAFI, de uma aparente redução da actividade empresarial ou passagem para o informal de algumas empresas, do aumento das críticas dos empresários face à condução da política económica e, não menos importante, da concentração crescente em alguns sectores vitais por parte de dois/três operadores, limitando a sobrevivência de pequenos e médios empreendedores.
A diversificação económica também não aconteceu e o ritmo de crescimento da produção nacional fora do oil & gas, continua a ser muito baixo. O consumo interno baixou, o País está muito longe dos objectivos de captação de investimento ou financiamento estrangeiro e o Estado teve de ir buscar este ano 2.000 milhões USD para apoio à tesouraria. Também, a acreditar nos dados do III trimestre, a execução do OGE 2024 nos sectores da Educação e Saúde não vai ultrapassar os 75% e, objectivamente, a grande maioria dos cidadãos angolanos vive pior hoje do que no final de 2023.
Este foi também um ano em que se assistiu a uma saída significativa de quadros nacionais para o estrangeiro, com as suas famílias, o que, em termos práticos, significa a perda de expertise e conhecimento, que tanta falta faz para o desenvolvimento do País. Foi também um ano, contrariamente ao prometido, em que o Estado manteve a sua posição de domínio nos diversos sectores da economia, sendo que, em termos práticos, privatizou apenas 30% do capital da ENSA e da BODIVA, mantendo a posição de liderança nestas empresas. Todas as outras privatizações anunciadas para empresas importantes foram "chutadas" para a frente.
Com a aprovação da nova divisão administrativa do País, depois de muitos outros "expedientes" ao longo destes últimos anos, também percebemos todos que, afinal, as autarquias é só para depois de 2027. E isto seria também importante para potenciar o crescimento económico do País.
Das coisas boas, quero referir à cabeça a diminuição da dívida pública, depois a inauguração do novo aeroporto de Luanda, que pode ser uma mola para o desenvolvimento económico, e da possibilidade do aparecimento de novos investidores internacionais com maior credibilidade, em resultado da nova orientação da diplomacia económica do Governo.
Resumindo, em termos económicos, o ano correu mal. A política económica escolhida não está a resultar e não há outra forma de dizer isto. Mesmo que se queira "dourar a pílula".