Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

Política económica em tempo de crise

Laboratório Económico

O Ministério da Economia e Planeamento apresentou, no dia 6 deste mês, à delegação do Fundo Monetário Internacional as previsões de crescimento do PIB para 2020, colocando a respectiva taxa de crescimento em -4,8%.

Enquanto outros países já dispõem de previsões sobre o comportamento das principais grandezas macroeconómicas para o IIIT deste ano, em Angola os dados disponíveis ainda só abarcam o IIT, a despeito dos esforços do INE: -1,8% no primeiro trimestre e -4,6% no segundo, ou seja, uma variação em cadeia de -6,4%. Para que as previsões do Governo se concretizem será necessário que a economia cresça 3,6% nos dois trimestres finais, aguardando-se com expectativa as informações respectivas (eu acredito que o Governo/Ministério da Economia e Planeamento já as tenha, mas adiou a sua divulgação pública). No entanto, o panorama económico interno pode não ser propício à inversão das tendências negativas dos dois trimestres anteriores: as empresas continuam a fechar, o desemprego a aumentar, os salários a diminuírem (massa salarial, salário nominal e salário real), os investimentos continuam em stand by (quem vai investir não havendo massa crítica de procura interna endógena e a procura externa de petróleo - o único produto exportável de Angola - em queda), a inflação a atingir patamares elevados (com implicações na redução do valor do consumo privado e na perda do seu valor real) e a pobreza a elevar-se (por dia morrem de subnutrição em Angola 47 crianças). A inflação e a política monetária continuam de candeias às avessas (maior restrição mais elevada inflação): de acordo com a Folha Informativa do INE de Outubro, a inflação homóloga de Setembro está estimada em 23,8% (próxima da registada no mesmo mês em 2017 - 25,2% - e acima das ocorridas em 2018 (19,2%), e 2019 (16,1%); por outro lado, a inflação homóloga de Setembro de 2020 já ultrapassou a anual de 2017 (23,7%), 2018 (18,6% e 2019 (16,9%).

Face a estes factos, é pouco provável que as previsões oficiais se verifiquem, valendo, para mim pessoalmente, as que o CEIC divulgou em Abril do corrente ano: -6,8% de crescimento do PIB. E para 2021, a panorâmica não é muito melhor, prevendo-se ainda uma recessão de -1,8%. A retoma, em moldes ainda ténues pode ocorrer só a partir de 2022, com uma taxa de variação de 1,9%. Praticamente todos os estudos que li sobre o pós-Covid 19 e a retoma do crescimento no mundo são unânimes em estabelecer um período de 2 a 3 anos para se estabilizar a retoma e colocá-la nos patamares de antes da pandemia e da crise económica. Em Angola não será diferente, mas com duas restrições: a natureza contraccionista da política económica e a crescente pobreza, esta com reflexos indeléveis sobre um dos mais importantes factores de crescimento das economias, o consumo das famílias, em cenários de procura externa em queda.

A taxa de pobreza monetária em Angola continua a subir, depois de o INE a ter estimado em 41% em 2018/2019. Sem uma mudança do paradigma económico (alguns países por esse mundo fora estão a aproveitar o Covid-19 para se questionarem sobre que mudanças se devem introduzir nos sistemas económicos de modo a torná-los mais resilientes a intempéries imprevistas) Angola pode vir a registar um quantitativo de pobres de cerca de 17 milhões de pessoas em 2023. Mudando de modelo de crescimento - mais distributivo, menos restritivo, mais eficiente(3) e mais social - a taxa de pobreza poderia situar-se em 37%, equivalente a 12 milhões de pessoas em 2023, uma redução de 5 milhões de pessoas em 3 anos. Não acredito em tal possibilidade, porque as deficientes aplicações de recursos continuarão a dominar a nossa governação.

A China, entre 1978 e 2018, conseguiu retirar da pobreza 740 milhões de pessoas, uma média impressionante de cerca de 18 milhões de pessoas por ano e um ritmo de crescimento do PIB como nunca se viu no mundo (em 40 anos o PIB cresceu 12 vezes, tornando-se na segunda maior economia do planeta.

*Economista

(Leia o artigo integral na edição 596 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Outubro de 2020, em papel ou versão digital com pagamento em Kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo