Projectos tecnológicos não chegam a ser negócio por falta de apoio
Num "mar" de entraves que faz com que vários projectos criados e desenvolvidos por estudantes não cheguem a ser transformados em negócio está a falta de apoio empresarial. Docente pede aos empresários que sejam mais ousados e que apostem nos projectos que lhes são apresentados.
São inúmeros os projectos criados e desenvolvidos por estudantes de instituições de ensino que não chegam a transformar-se em negócio, por uma série de factores, mas a falta de apoio empresarial é apontado como o principal entrave à maturação dos projectos. O Expansão foi ver qual o rumo que tomaram alguns dos protótipos desenvolvidos por estudantes, como o que se revelou na edição de 29 de Julho de 2018.
Trata-se de um dispositivo criado por dois estudantes do Instituto de Telecomunicações em Angola (ITEL), que impede a utilização de motos, sem uso de capacete. A ideia teve em vista diminuir o roubo de motorizadas, mas a falta de apoio atirou o projecto para a gaveta. O dispositivo foi criado por dois jovens: Adolfo de Carvalho e Eliane da Costa, ambos do curso de Electrónica e Telecomunicações. O projecto funciona com uma comunicação sem fios, sustentada por radiofrequência, que faz a conexão com a moto e, quando o motociclista quiser, por exemplo, locomover-se terá de usar obrigatoriamente o capacete. Caso contrário, a moto não arranca.
Devido ao deficiente fornecimento de energia em Luanda, e sobretudo nas províncias, os estudantes do Instituto Superior de Telecomunicações de Informação e Comunicação (ISUTIC) desenvolveram um dispositivo de produção de energia, através da temperatura produzida pelo carvão, fogão e outros aparelhos. O dispositivo, criado pelos estudantes de Engenharia e Telecomunicações Gospel Fita, Felizardo Coxe e Mavi Nguengo, foi resultado de um estudo desenvolvido na província do Bengo, devido à fraca extensão de energia, mas que serve para qualquer parte do país e do mundo.
Um grupo de estudantes do ITEL e do ISUTIC desenvolveu o sistema pré-pago EFAP, com o objectivo de racionalizar a água potável, carregar e pagar o fornecimen[1]to de água, a qualquer hora e em qualquer lugar. O projecto, desenvolvido em 2014, aguarda resposta da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL).
Estes dois exemplos fazem parte de um conjunto de projectos que acabaram por ficar arquivados e alguns acabaram por "morrer", sem atingir a maturação. O director-geral do ITEL, Cláudio Gonçalves, admite que a falta de apoios é um velho problema, por existir ainda uma colaboração muito tímida entre as academias e os empresários. Mas acredita que, com o surgimento do Digital.ao, um acelerador de empresas de base tecnológica, será o início de uma nova era para os projectos.
"Todo e qualquer país consegue desenvolver-se se juntar sector empresarial, académico e governamental. Os três precisam estar unidos, porque o governo vai trazer a regulamentação necessária, os benefícios e as facilidades para o sector empresarial apostar em iniciativas académicas. Então, quando os três caminharem juntos, os projectos terão outra dinâmica". Por outro lado, Cláudio de Almeida explica que os estudantes têm conhecimentos de empreendedorismo, mas precisam também amadurecer os projectos para que sejam comercialmente viáveis, embora seja a falta de apoio empresarial o grande problema.
Para o professor de engenharia informática do ISUTIC, Silva Vunda, o financiamento é dos aspectos mais delicados na transformação de um projecto em negócio. Por isso, os alunos devem ser ensinados a compilar a informação do mercado, estudar a viabilidade e possuir um bom plano de negócios, porque senão os projectos vão continuar sem pernas para andar. "É verdade que não é fácil, mas também os empresários precisam começar a olhar para estes projectos e acreditarem mais no que é feito e no que pode dar futuramente, porque se não existir essa ousadia, obviamente, que não haverá novos caminhos".