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"Há governos que querem mesmo que a sua gente continue tapada"

JACQUES DOS SANTOS

O romance mais recente de Jacques dos Santos, "República de Santa Bárbara", já chegou às bancas. O romance aborda cenas tão reais e parecidas aos cenários de Angola/Luanda que muitos poderão se identificar. O escritor dedica o livro à esposa que faleceu em Fevereiro.

Que enredo nos trás em "A República de Santa Bárbara"?

Para já, escolhi o nome de Santa Bárbara de forma espontânea, e só depois me lembrei que havia, aqui em Luanda, um bairro Santa Bárbara, ali na Samba. Mas sinceramente não pensei, sequer, neste bairro. Escolhi Santa Bárbara porque está ligada à trovoada, à fúria dos ventos. A este país que eu criei ficticiamente dei o nome de Santa Bárbara.

Existem muitas semelhanças com o País?

Obviamente que o cenário que traço é de um país africano, que tem a sua capital no centro, a que eu dei o nome de Anunciação, onde se passam uma série de coisas muito esquisitas, surreais, mesmo. A minha imaginação criou este enredo que os leitores vão avaliar se valeu a pena ou não. É evidente, angolano que leia o livro vai logo dizer: isto é Angola.

Porque tem características facilmente encontradas em Angola?

Sim. Poderão dizer: isto é Luanda, esta figura é aquela pessoa, este é aquele dirigente, e outros ao lerem podem dizer: este sou eu. Mas os escritores estão sempre protegidos, porque, como se costuma dizer: qualquer semelhança é pura coincidência. Vamos aguardar para saber como é que as pessoas vão encarar. Estou convencidíssimo que alguns ilustres ou não, vão dizer: este está a falar de mim. Mas não. A ficção tem estas cambiantes, esta coisa bonita que nos permite entrar no amago das questões, sem termos a obrigatoriedade de chamar os `bois pelo nome".

O surrealismo está muito presente neste romance?

Há muito surrealismo, porque há muito feitiço, há muita coisa do além, de coisas quase impossíveis. Mas é para isto que serve a imaginação do autor. Vou aguardar pelos dizeres dos leitores que deverão pensar: relatou bem as coisas ou este é um maluco (risos). Mas também já tenho idade para não ser considerado de maluco, estou quase nos 80 anos.

As opiniões são sempre válidas?

Penso que no estádio político ou social em que se encontram as coisas, é de todo necessário que este tipo de abordagem seja feita. É preciso que os próprios políticos sintam que a população esteja atenta, que faça uma introspecção, porque no meio de tudo isto quem sofre é a população indefesa. Enquanto se fazem festas milionárias, as pessoas não conseguem se salvar de um paludismo, curar a diarreia de um filho e morrem aos montes. Enquanto os filhos de uns poucos esbanjam dinheiro com garrafas de bebidas, festas e mulheres.

Os leitores já conhecem a sua veia crítica.

Quem me conhece sabe bem como sou, não é de agora. Nunca tive medo de dizer quais eram as minhas intenções. Foram 40 anos a viver de um regime de muita esperança, que foi se perdendo, e nos últimos cinco anos, quando a esperança tinha sido encontrada, começou-se a perder outra vez. E estamos num momento extremamente delicado, espero que neste momento de campanha eleitoral, até chegar o dia das eleições, consigamos fazer este acto democrático de forma civilizada. Ganhe quem ganhar, que seja ao menos de forma decente. E não por imposição de ninguém.

Como se estivessem a mandar na população enquanto que são eles os servidores públicos?

Sim. Penso que está a chegar a hora de os partidos não terem uma força exagerada sobre a população. Não podem, porque quem tem que ter essa força é a população. E alguns partidos estarem a valer-se do dinheiro do Estado, dos contribuintes e eles é que estão a usufruir. Os partidos têm dinheiro para fazerem as suas campanhas, recebem o que a Lei permite, mas podem meter-se na vida dos eleitores. Eles estão aqui para nos servir e não para estarem com um chicote a querer mandar em nós.

(Leia o artigo integral na edição 685 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Julho de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)