"Não devemos subestimar o poder da música. A nossa história pode ser conservada nela"
Abandonou o curso de Engenharia Informática na Universidade Católica de Angola e foi para Cuba através de uma bolsa, onde licenciou-se em Música na Universidade das Artes de Cuba. Mas confessou que não deixou para trás o sonho de juntar as duas ciências.
Como surgiu o interesse pelas artes e pela música?
O meu interesse por música surge principalmente depois que um tio meu ter regressado de uma viagem a tocar teclado. Ouvi e fiquei muito fascinado. Percebi que começou a despertar um interesse ou paixão com muita energia, isso aos 12 ou 13 anos. Passei a interessar-me por programas de TV, na altura o "Club de Jazz" e o "Prelúdio". Devo muito essa influência, também ao ambiente musical religioso na Igreja Evangélica Baptista (IEBA) dos Combatentes.
Mas fez a formação fora do País para se tornar músico e professor?
Sim. Graças a Deus tive a oportunidade de me apresentar a um teste de um programa de bolsas do Ministério da Cultura em par[1]ceria com a Universidade das Artes de Cuba, em 2006, por influência de um bom amigo. Graças a Deus fui um dos quatro seleccionados para estudar licenciatura em música na esplêndida Universidade das Artes de Cuba.
Como foi o processo?
Inicialmente comecei como autodidacta e com a pouca experiência de tocar teclado na IEBA Combatentes e de cantar no coro da escola dominical. Éramos muitos candidatos na altura, mais de 60 e vários frequentavam estudos médios na antiga Academia de Música de Luanda, com melhor preparação para o teste. Eu, na altura, com 23 anos, era estudante de Engenharia Informática na Universidade Católica de Angola.
Em que lugar ficou a informática?
Não deixei de todo a informática, principalmente porque hoje a música está profundamente interligada às tecnologias. Gostaria, sim, de obter um nível de estudos onde seja possível ligar as duas ciências. Infelizmente, as formações são no exterior do País e estão avaliadas em milhares de euros. Necessitaria de uma bolsa para poder frequentar todos os semestres.
Como é ser professor de música em Angola?
Considero difícil ser professor de música numa instituição pública e de ensino superior, pelo facto de não se investir o suficiente para alcançar os resultados ideais não serem feitos. A satisfação profissional é atrofiada. Seguramente essa realidade mudará quando se começar a investir de maneira mais direccionada aos resultados que se desejam alcançar.
Já almejava ser professor?
Ser professor, para mim, surge como consequência natural da profissão que escolhi exercer, e por ter descoberto que tenho facilidade de partilhar algum conhecimento, quer para quem não domina nada e se inicia desde o absoluto zero, e também ajudar e influenciar quem já conhece melhor o seu desempenho e performance musical.
Vai ficando alguma experiência especial?
Tenho aprendido, durante esse tempo, que o professor é o único profissional que participa activamente na formação da personalidade social e profissional de todos os indivíduos e em todas as áreas profissionais possíveis. Sempre haverá um professor. Para a nossa realidade esse entendimento ainda é de certa forma desvalorizado.
(Leia o artigo integral na edição 673 do Expansão, de sexta-feira, dia 06 de Maio de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)