"O que gostaríamos mesmo é que os actores fossem apenas actores"
Actor e também cantor esteve recentemente no País como um dos principais intérpretes do filme o Emigrante, gravado em portugal. Ao Expansão, Mauro Edson promete voltar brevemente para um novo trabalho. Mas, desta vez, como produtor executivo.
Reside fora do País e sei que veio para a estreia de um filme. Que projecto é este?
É um filme que se chama Emigrante. Conta a história de um jovem que emigrou para Portugal e, neste processo, teve dificuldades a nível da sua legalização, ou seja, o documento que lhe permite manter-se no país caducou e então teve de usar portas e travessas para se manter lá.
Quem escreveu?
Quem escreveu e realizou foi o Levis Albano, a direcção foi do Gnosco, produção de Erica Chissapa, que também entra no filme como actriz, e tem outros actores portugueses. Mas a maior parte dos actores no projecto são angolanos. É um filme que se chama Emigrante. Conta a história de um jovem que emigrou para Portugal e, neste processo, teve dificuldades a nível da sua legalização, ou seja, o documento que lhe permite manter-se no país caducou e então teve de usar portas e travessas para se manter lá.
Qual é a sua participação no filme?
Eu participo como actor. Represento um grupo de pessoas que também emigrou, mas num contexto completamente diferente do personagem principal. É alguém que já foi há muito tempo para lá e criou as suas bases na Europa.
Tiveram apoio de entidades angolanas?
Sim, tivemos apoios, mas a nível institucional. O investimento foi mesmo da produção e da realização.
Sei que também é cantor, quando está a gravar deixa de receber convites para representar?
Não, muito pelo contrário. Eu me tornei cantor, primeiro porque gosto muito e segundo porque há uma possibilidade muito grande de, ao cantar, poder fazer vídeo- -clipes e representar. Como a produção nacional era muito débil, onde nós fazíamos uma novela e depois não conseguíamos fazer outra e não havia mais nada de ficção, então vi que uma das melhores formas de poder continuar a trabalhar com a arte ou representação era através da música.
Que avaliação dá ao cinema nacional?
Acho que está a crescer muito. É interessante o trabalho que temos estado a fazer. Cada um na sua possibilidade está a fazer acontecer e as pessoas também estão a começar a ficar mais abertas em relação a isto. Estão a perceber que investir não é só na agricultura ou no turismo, mas o cinema também é um bom veículo de investimento.
A Nigéria, África do sul e Gana são verdadeiras indústrias no cinema e com forte participação no PIB. É possível chegarmos a esses níveis?
Esse é o nosso sonho. Por isso é que estamos a fazer e a acreditar.
Então, o que nos falta para chegar lá?
Dinheiro, essencialmente. Porque a gente até pode sonhar e acreditar e desejar fazer coisas, mas sem dinheiro ficamos de pernas e mãos atadas. Porque o que gostaríamos mesmo é que os actores fossem apenas actores e não precisassem de ser pintores, pedreiros ou jardineiros, a menos que seja por hobby, trabalhando somente no que eles realmente gostam e, com certeza absoluta, que dariam maior reconhecimento à classe.
É dos que pensa que o cinema em Angola deve se subsidiado?
Sim. Primeiro é necessário perceber que o Estado é interveniente de qualquer processo, porque é ele que tem a capacidade de regular, orientar todo o trabalho que é desenvolvido e nós precisamos do suporte do Estado. Há, por exemplo, uma lei do mecenato, onde as empresas que apoiam o desenvolvimento cultural beneficiam de descontos nos impostos. Isto mesmo para incentivar e motivar a criação do movimento cultural.
Sentem os efeitos desta lei?
É verdade que não se sente. Não sei se é pouco divulgado, não sei se o trabalho não é interessante para os empresários, não é interessante para o Estado divulgar, mas a verdade é que não se sente. Há países onde o PIB está relacionado directamente com o que se produz na indústria cinematográfica. Nos Estados Unidos, 40% do que se produz vem do cinema. Então é preciso perceber que isto é uma fonte muito poderosa de rentabilização e de venda do próprio País.
Leia o artigo integral na edição 761 do Expansão, de sexta-feira, dia 02 de Fevereiro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)