África é fértil e tem mercado, mas mau ambiente de negócios trava financiamentos e afasta investidores
Líderes de instituições africanas e europeias procuram soluções para apoiar o crescimento das economias africanas, que apresentam um ambiente de negócios difícil. África tem os recursos, mas não tem capital para os transformar. O mundo girou e a Europa precisa de África para se reposicionar.
África, marcado por instabilidade política, social e regulatória, bem como o excesso de burocracia, corrupção, morosidade do sistema judiciário, falta de infraestruturas e redes de comunicação, e um fraco capital humano, estão a travar e a comprometer o financiamento e a atracção de investimento europeu e local no continente, o que transformou África num território "para extracção" e com baixo nível de desenvolvimento.
Estes factores foram apontados por diferentes responsáveis de instituições africanas e europeias durante o AU-EU Business Forum 2025, enquadrado na 7.ª Cimeira entre a União Europeia e a União Africana, realizada esta semana, em Luanda.
O facto é que estes elementos não são novos, já que durante vários anos se tem questionado o mau ambiente de negócios em que os agentes operam no continente, rico em vários recursos naturais e que detêm a população mais jovem do mundo, com cerca de 60% dos seus habitantes com menos de 25 anos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). E a culpa é da má governação que se tem verificado em África, após o período de colonização.
Somachi Chris, CEO da Fundação Tony Elumelu (TEF), instituição que financia empreendedores e PMEs de vários países africanos, foi uma das oradoras da mesa-redonda que debateu o "Acesso ao Financiamento", afirmou que se o continente continuar com problemas, como instabilidade política e regulatória, nunca vai atrair, manter e multiplicar o capital, seja estrangeiro ou local.
"Precisamos ser sérios e ter uma visão ampla dos investimentos. O continente não pode ser apenas para extracção", sentenciou. A CEO da instituição que já financiou, com cerca de 100 mil milhões USD, mais de 21 mil empreendedores, aponta que grande parte dos gestores africanos diz que a percepção sobre o continente é muito negativa para atrair capital. De igual modo, defende que os líderes africanos devem levar a questão do investimento em infraestruturas com seriedade.
"Não podemos viver num continente onde cerca de 60% da população não tem acesso à electricidade e falar sobre investimentos. Os nossos empreendedores dizem-nos que gastam 80% dos lucros a gerir gastos com electricidade nos seus negócios. Nós não podemos esperar que esses empreendedores se esforcem e continuem a criar empresas, retirando dos seus rendimentos para proporcionar electricidade para seus negócios", realçou.
Assim, entende que as economias africanas devem pensar em prosperidade longa e num progresso compartilhado.
Já Benoit Chervalier, CEO e presidente fundador do grupo BCH Invest, aponta que é necessário mudar de uma abordagem de top- -down, ou seja, de cima para baixo em termos de políticas e de instrumentos, para adoptar uma abordagem de baixo para cima. Isto significa que os projectos deveriam ser dirigidos com essa abordagem, o que levaria as empresas do sector privado para um ambiente mais amigável, com impostos justos, estabilidade e previsibilidade.
"A realidade é que, tanto as empresas africanas e europeias, enfrentam um ambiente de negócios muito difícil e competitivo. E não é bom para qualquer investidor", frisou.
Por sua vez, Erica Gerretsen, directora de Parcerias Internacionais da Comissão Europeia, entende que existem muitos desafios para investir, mas o continente apresenta um potencial enorme e um mercado fértil. "Nas minhas funções, eu ouço que há uma prontidão para investir, mas existe a necessidade de criar uma procura. E este é um dos desafios", disse.
A responsável reafirma o compromisso europeu em investir no continente. "Uma mensagem que quero garantir e reafirmar aos negócios europeus é que investir em África é a melhor coisa a fazer. África tem uma taxa de crescimento de 4% e é um mercado fértil. Onde mais se pode encontrar uma oportunidade de gerar investimentos no continente africano e para o mercado africano se não for aqui?", questionou.
"Nós falamos muito sobre a comparação entre a Europa e a África, a nível de comércio internacional, mas o importante é que o mercado está aqui. E este é o mercado que vai criar a procura que cumpre as necessidades de África", acrescenta.
Assim, Erica Gerretsen entende que são necessárias infraestruturas e um sector privado africano e europeu que trabalhe junto e melhore a percepção sobre investir no continente. "Há, sim, essa percepção de que investir em África é muito perigoso, e é por isso que precisamos trabalhar sobre essa percepção", rematou.
Solução africana
Por sua vez, Francisca Belobe, comissária para os Assuntos Económicos, Comércio, Turismo, Indústria e Minas da União Africana, apontou que África tem estado a criar soluções para os diversos problemas encontrados na região.
"África tem um quadro político de investimentos continentais, estabelecido pela União Africana. Nós temos, no nível da Zona de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA), um protocolo de investimentos", apontou...











