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Angola

Comprar água em bidões custa até 25 vezes mais do que na rede pública

CONSUMIDOR FINAL "OBRIGADO" A COMPRAR MUITAS VEZES ÁGUA IMPRÓPRIA PARA CONSUMO

Quando a formalidade não consegue dar resposta, está aberta a porta à informalidade. Distribuição da rede é quase inexistente, o que deu lugar a um mundo informal de abastecimento de água, que é caro para as famílias e que põe em causa a saúde pública. Cenário não deve mudar tão depressa.

As famílias que compram água nos bairros através do sistema de abastecimento informal por via dos bidões gastam vinte vezes mais do que a comprar directamente à rede pública, de acordo com cálculos do Expansão. A origem da água e as cisternas de transporte são um problema de saúde pública, alertam especialistas.

De acordo com o tarifário que consta no Decreto Executivo Conjunto 230/18 de 12 de Junho, cada 15 metros cúbicos de água, equivalente a 15 mil litros, custam na rede, 4.005 Kz, a que se junta 760 em tarifa fixa mensal. Contas feitas, dá 4.765 Kz, ou seja, cada litro fica a 0,3 Kz ao consumidor final.

Mas o abastecimento da maior parte da população em Luanda é feito com recurso às cisternas que transportam a água das girafas para os reservatórios e tanques nos bairros, onde não chega ainda o abastecimento da rede. E por isso este negócio que envolve muito dinheiro está nas mãos da informalidade, não paga impostos, não é supervisionado por ninguém e ameaça a saúde pública. E é caro.

Só para se ter uma ideia, a nível de Luanda, a EPAL tem sob gestão 14 Girafas para abastecer os camiões cisternas. Cada Girafa atende no mínimo 40 camiões cisterna por dia, segundo constatou o Expansão durante uma visita à Girafa dos Astros, no Município de Talatona.

De acordo com a tabela de preços da EPAL, abastecer de 15 mil litros um camião cisterna tem um custo de 4.411,8 Kz, o que dá 0,3 Kz por litro. De seguida, o camião cisterna desloca-se para os bairros onde vende directamente a moradores e a revendedores, por norma a preços que variam entre 16.000 Kz a 20.000 Kz, o que dá 1,1 Kz e 1,3 Kz por litro, respectivamente. A água chega, assim, aos bairros três e quatro vezes mais cara do que na rede pública ou até nas girafas da EPAL.

No caso dos moradores, dependendo da utilização e do número de elementos, estes carregamentos chegam a durar pouco mais de um mês. No caso das famílias que têm tanques instalados nas suas casas gastam quatro vezes mais neste sistema informal de abastecimento do que se tivessem a rede pública instalada.

Nos casos dos revendedores, vendem depois água por via dos bidões cujos preços variam entre os 100 Kz e os 200 Kz por cada 25 litros. Contas feitas, cada litro custa entre 4 Kz e 8 Kz, o que significa que a água fica entre 12 e 25 vezes mais cara do que na rede pública.

Negócio informal e lucrativo nos bairros

O circuito do negócio de água em Luanda é bastante vasto e concorrido até porque o sistema público é altamente ineficaz e não chega a todo o lado. E o que é que acontece quando o sistema público não fornece um serviço? A informalidade chega-se à frente. É o que acontece na água, mas também na venda de divisas, no fornecimento de documentos, medicamentos, em praticamente tudo no País. Tudo é oportunidade de negócio. "Se tiver muitas solicitações e em locais com fácil acesso e se o camião estiver tecnicamente bem, por dia descarrego três vezes a diferentes clientes", afirmou Job Manuel, motorista de uma cisterna, acrescentando que a maior parte dos seus clientes são revendedores.

Num país onde 80% do emprego é informal, quem tem "olho" para o negócio é que sobrevive. "Se eu comprar uma cisterna de 25 mil litros, gasto 35 ou 38 mil Kz e posso ganhar o dobro desse valor", revelou Augusta Teca, revendedora de água na Zona Verde, arredores do bairro Bem-fica.

Muitos destes revendores funcionam como retalhistas e grossistas, já que além de venderem directamente ao público também fazem negócios com outros revendores. No caso, as motorizadas de três rodas que com os seus próprios bidões de 25 litros compram a água nos quintais a 100 Kz e fazem chegar às casas de difícil acesso localizadas em becos a preços que variam entre os 150 Kz e os 200 Kz.

Leia o artigo integral na edição 755 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Dezembro de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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