Taxa de penetração estagnou nos 0,6% e contraria objectivos do regulador
Apesar de o regulador apontar a um crescimento acima de 1%, desde 2019 que a taxa de penetração de seguros tem estado em queda. A falta de estabilização da economia associada à pouca literacia tem colocado os seguros fora da lista das prioridades dos cidadãos. A crise dificulta o sector.
A taxa de penetração dos seguros no País estagnou nos 0,60%, uma realidade que vai em "contramão" com os objectivos do regulador que é atingir a taxa média da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) que está à volta dos 3%.
Nos últimos dois anos, o PIB, em termos nominais, tem crescido mais que os prémios e, enquanto essa tendência se mantiver, a taxa de penetração vai reduzir ou estagnar porque o peso da actividade seguradora na economia é medido com rácio entre o volume de prémios da actividade e o PIB.
Por outro lado, o sector segurador continua a crescer abaixo da inflação. Em 2022, por exemplo, os prémios cresceram 12,87% para 313.549 milhões Kz, de acordo com o estudo da Associação de Seguradoras de Angola (ASAN) feito com base em 17 seguradoras associadas. Um crescimento abaixo da inflação, que foi de 13,86% no ano passado, o que significa que, em termos reais, os prémios vendidos tiveram um decréscimo de 1 ponto percentual face a 2021.
O desenvolvimento do sector segurador, segundo Paulo Bracons, está directamente relacionado com a expansão da actividade económica e Angola não é excepção desta realidade. "A preocupação do cidadão está muito ligada à satisfação das suas necessidades básicas e, neste contexto macro-económico, os seguros não são de todo uma prioridade", sublinha.
Apesar desta realidade, o consultor de seguros acredita que existem acções que podem ser desenvolvidas para aumentar a penetração dos seguros em Angola, como reforçar as redes de agentes, que "são incipientes, mal preparadas e deficientemente geridas no País". E acrescenta que isso se deve ao facto de muito poucas companhias estarem a investir no recrutamento, formação, desenvolvimento e gestão de redes de agentes.
O especialista defende a criação de condições para a expansão dos ramos obrigatórios, em particular o ramo automóvel e os acidentes de trabalho, apesar de admitir que estas condições estão longe de estarem asseguradas, em particular ao nível da fiscalização.
Recorde-se que existem em Angola mais de 30 seguros obrigatórios, agrupados dentro dos seguros de Acidentes de Trabalho, Acidentes Pessoais, Danos, Incêndio e Responsabilidade Civil, todos com baixa taxa de adesão de acordo com o universo a que se dirigem. Os especialistas defendem que a principal causa é a falta de fiscalização.
"Deve existir oferta mais abrangente em termos de seguros de vida, em particular produtos de poupança, de reforma e de investimento. Contudo, esta só será possível com a estabilização da economia e uma maior dinâmica do mercado de capitais, para que possamos ter mais e melhores activos que possam ser alocados a estes produtos (Fundos Mobiliários e Imobiliários, Obrigações Empresariais, entre outros) ", refere Bracons.
A participação das seguradoras neste mercado ainda é incipiente, porque dos 1,6 biliões Kz negociado no mercado de capitais por sectores institucionais e não institucionais, as empresas ligadas aos seguros e fundos de pensões representam apenas 2,06% do total, equivalente a 33,4 mil milhões Kz, uma percentagem ínfima quando comparada com o que acontece em outros países, embora exista uma reclamação da parte dos operadores do sector relacionado com a falta de produtos adaptados à sua actividade, nomeadamente com maturidades de curto prazo.
Questionado sobre a responsabilidade da fraca penetração dos seguros no País, Rodrigo Muenho, outro consultor de seguros, sublinha que é de todos, desde as seguradoras, a ARSEG, a Política Nacional e a Inspecção-Geral do Trabalho. "Apesar da situação macro-económica que retira o seguro das prioridades das contas dos cidadãos, é preciso que, sobretudo, as seguradoras e o regulador aumentem as acções de literacia financeira para que as pessoas conheçam os benefícios dos seguros e elevem a fiscalização", acrescenta Muenho.
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