Trocas comerciais afundam 23% com petróleo em baixa e menos importações
A queda nas exportações provocou uma diminuição nas receitas fiscais, sobretudo as do sector petrolífero, o que conjugado com a manutenção da pressão importadora, bem como a incapacidade em obter financiamentos, quer internos quer externos, empurrou o País para uma crise cambial e de tesouraria, provocando a queda do kwanza para níveis históricos.
As trocas comerciais de Angola afundaram 23% para 51.970 milhões USD em 2023 em relação aos registos de 2022. Na base está a queda das exportações, que encolheram 26% para 36.885 milhões USD face aos 50.038 milhões USD contabilizados em 2022, bem como a redução de 13% das importações para 15.085 milhões USD, segundo cálculos do Expansão, com base nas estatísticas do Banco Nacional de Angola (BNA).
Como é costume, a culpa da queda das exportações é do petróleo, cujas vendas para o exterior caíram 8.853,4 milhões USD (22%) devido à queda, não só do preço de mais de 100 USD para uma média de 80 USD, mas também da produção no País, que resultou de várias paragens para manutenção programadas e não programadas dos equipamentos nos grandes blocos. A queda nas exportações provocou uma diminuição nas receitas fiscais, sobretudo as do sector petrolífero, o que conjugado com a manutenção da pressão importadora, bem como da incapacidade em obter financiamentos, quer internos quer externos, empurrou o País para uma crise cambial e de tesouraria, provocando a queda do kwanza para níveis históricos.
Mesmo depois de serem exportados menos 9,3 milhões de barris de petróleo bruto no ano passado, devido à queda da produção, ainda assim o sector petrolífero (petróleo bruto, derivados e gás) representa 94% das exportações angolanas, praticamente o mesmo peso que representava em 2022, o que demonstra o pouco impacto na economia do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI).
Tal como entende o economista e director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC), Heitor Carvalho, o peso do sector petrolífero está a regredir, "não porque o País está a desenvolver os restantes sectores, mas porque a produção nesse sector está a regredir. Tendência que se manterá na próxima década à medida que os nossos poços se vão esgotando". "Apesar dos esforços e alguns resultados positivos na procura de novas reservas petrolíferas, a probabilidade de uma inversão desta tendência é, infelizmente, muito remota", aponta o economista.
Ainda assim, as exportações fora do sector petrolífero e diamantífero (que representa 5% das exportações) cresceram 23% para 503,1 milhões USD, ou seja mais 93,9 milhões USD. Contas feitas, os sectores da denominada diversificação económica valem menos de 2% das receitas brutas de exportação do País. Face ao afundanço das exportações petrolíferas no ano passado, isto significa que a diversificação económica está longe de compensar os efeitos negativos que uma quebra de produção no petróleo provoca aos cofres do Estado.
Se as exportações afundaram, o mesmo aconteceu com as importações, mas a uma taxa inferior. Em 2023, o País importou o equivalente a 15.084,9 milhões USD em mercadorias, enquanto no mesmo período de 2022 importou 17.267,3 milhões USD, o que significa que as importações caíram 2.182,5 milhões USD no ano passado. A quebra no consumo interno e as dificuldades em aceder a moeda estrangeira provocaram em parte esta quebra das importações, já que em 2023 os angolanos perderam o poder de compra, devido à depreciação do kwanza e aos efeitos da subida dos preços da gasolina, em Junho, que tornaram o quadro macroeconómico totalmente diferente.
Quanto às importações, Heitor Carvalho entende que as reduções significativas são em combustíveis, que passam de 4.028 para 3.616 milhões de USD (-10%) devido à redução de cerca de 15% dos preços nos mercados internacionais e algum aumento das quantidades, e principalmente, alimentos, que passam de 2.890 para 1.950 (-32,5%) milhões USD, uma redução de quase um terço na importação de alimentos.
"Esta redução ficou a dever-se à convicção militante de que se produzem no País muitos bens alimentares e que se deve impedir administrativamente a importação desses produtos, quaisquer que sejam as consequências. A subida vertiginosa dos preços dos bens alimentares está aí para atestar que estes choques brutais provocados por opções ideológicas não são aconselháveis. Só para ilustrar as prioridades que estamos a seguir, a importação de viaturas representou 1.333 milhões contra 1.950 de bens alimentares", apontou.
Por sua vez, o economista Carlos Lumbo entende que uma das lições que o Governo devia tirar mediante o cenário das trocas comercias, seria de acumular as reservas internacionais enquanto está o preço do petróleo esteve em alta, o que não aconteceu em 2022 (ano eleitoral) quando dólar chegou a 120 USD e País não criou reservas.
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