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Grande Entrevista

"Temos a exportar para Angola cerca de 5 mil empresas portuguesas"

FRANCISCO ALEGRE DUARTE EMBAIXADOR DE PORTUGAL EM ANGOLA

O embaixador português realça que a presença do Presidente João Lourenço nas comemorações do 25 de Abril em Portugal confirma o bom momento e a maturidade das relações entre os dois países. Mas também fala das dificuldades.

As relações entre Portugal e Angola ao longo destes quase 49 anos de independência tem sido de altos e baixos. Uma vezes mais próximos, outras com aqueles "irritantes". Do seu ponto de vista, como estão hoje estas relações?

Recentemente, tomou posse em Portugal um novo governo, mas eu quero desde logo sinalizar que não obstante as mudanças políticas em Portugal, e que são normais em democracia, a relação com Angola será sempre prioritária. Em termos de balanço, vou falar sobretudo dos dois últimos anos e pouco em que aqui estou. Acho que as relações, sinceramente, nunca estiveram tão boas.

Concretize por favor...

Acho que 2023 foi um grande ano para as relações bilaterais. houve muitas visitas de governantes nas diversas áreas, mas em termos substantivos houve duas visitas principais. A primeira foi a do ministro das Finanças, Fernando Medina, na qual nós estabilizámos o funcionamento da linha de financiamento Portugal-Angola. Importámos novos projectos para essa linha e alargámos o plafond de 1,5 mil milhões para 2 mil milhões de euros. E eu creio que isso foi um sinal importante de confiança que o governo português deu a Angola, num momento em que já se sentiam algumas dificuldades em termos de acesso ao financiamento externo.

Depois a visita do primeiro ministro, António Costa.

Antes também esteve cá o ministro português dos Negócios Estrangeiros. No âmbito da visita do ex-primeiro ministro, houve a assinatura de 18 instrumentos jurídicos, alguns deles bastante relevantes. E foi também no contexto dessa visita que o primeiro ministro português, em articulação com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, formalizou o convite para a deslocação do Presidente João Lourenço a Portugal para participar nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. Algo que acontecerá dentro de dias e que, a meu ver, é de facto um marco que sublinha a maturidade nas nossas relações. Eu acho que é muito significativo que, 50 anos depois do 25 de Abril, nós estejamos em condições de celebrar em conjunto.

Apesar dessa convergência em termos políticos, hoje temos menos empresas portuguesas em Angola do que no passado?

Apesar de algumas divergências em termos políticos, do ponto de vista económico, na verdade, as relações sempre se mantiveram. Mas, sim, nós já tivemos aqui uma maior presença de empresas portuguesas.

Isso significa o quê? Maturidade ou desinvestimento?

Significa algumas dificuldades concretas. Ou seja, houve um período de recessão em Angola, um período longo, que se repercutiu negativamente na actividade das empresas portuguesas. Logo à minha chegada, o Presidente João Lourenço exortou-me a ajudar a inverter essa tendência de perda da presença empresarial portuguesa. E eu tenho procurado cumprir o meu papel ao serviço do país que represento, mas também de Angola, que é um país no qual eu acredito, como muitas empresas portuguesas.

Quantas empresas portuguesas temos hoje?

Temos a exportar para Angola cerca de 5 mil. E, já no ano passado, tivemos uma balança comercial que voltou a crescer bastante e foi até superior aos níveis pré- -pandémicos de 2019. Portugal exportou para Angola mais de 2,2 mil milhões de euros. Somos hoje, solidamente, o segundo maior fornecedor de Angola, depois da China. Houve também uma evolução nas exportações de Angola para Portugal, no ano passado houve um decréscimo das exportações petrolíferas. Mas há um aspecto importante que a mim me dá algum alento, que é o aumento das exportações de produtos agrícolas de Angola para Portugal.

Há cadeias portuguesas que já têm contratos com produtores nacionais.

Exactamente. Vê-se já nos supermercados portugueses produtos oriundos, por exemplo, da Nova Agrolíder ou da Fazenda Girassol. Estou a falar da pitaya, do mamão, da manga, da banana. Isso é algo que importa acarinhar e estimular. É preciso diversificar para os sectores que podem atrair divisas. E a agricultura, claramente, também tem uma vocação exportadora.

Leia o artigo integral na edição 771 do Expansão, de sexta-feira, dia 12 de Abril de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)