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África

Cyril Ramaphosa aponta 2050 como o ano da neutralidade carbónica na África do Sul. O Presidente João Lourenço fará hoje a sua intervenção na COP26

COP26, Glasgow, Escócia

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, num artigo de opinião no Financial Times argumenta que os abundantes recursos naturais do país permitirão construir uma economia ancorada nas energias renováveis e no hidrogénio verde

"O último relatório dos cientistas do clima da ONU adverte que o ritmo do aquecimento global está a aumentar, com a África Subsaariana a experimentar um aumento da temperatura acima da média internacional", começa por escrever Ramaphosa no seu artigo de opinião, publicado hoje no Financial Times, no dia em que vários chefes de Estado africanos fazem as suas intervenções na COP26, a cimeira do clima em Glasgow, e, entre eles, o Presidente de Angola, João Lourenço, que deverá apresentar a estratégia angolana, o segundo maior produtor de petróleo da África Subsaariana, para a atingir a neutralidade carbónica.

Cyril Ramaphosa da conta no seu artigo dos efeitos da seca e das enchentes na África do Sul, menos como do aumento das doenças respiratórias e da tuberculose devido à alteração dos padrões climáticos.

"À medida que os parceiros comerciais da África do Sul procuram a meta de emissões líquidas de zero carbono, é provável que aumentem as restrições à importação de bens produzidos com uso de energia intensiva em carbono. Como grande parte da nossa indústria depende da eletricidade gerada pelo carvão - o carvão é atualmente a fonte de 77% da energia sul-africana - os produtos que exportamos para esses países podem enfrentar barreiras comerciais. Os consumidores podem estar menos dispostos a comprar nossos produtos. Essas tendências significam que precisamos agir com urgência e ambição para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e fazer a transição para uma economia de baixo carbono", escrever o Presidente sul-africano.

E apela ao compromisso e à união de todos, para que esta jornada da neutralidade carbónica não deixe ninguém para trás.

"As necessidades dos trabalhadores e comunidades em indústrias e regiões que serão prejudicadas por tal transição devem ser cuidadosamente consideradas", adverte Ramaphosa, que considera que tantos os privados como os governos precisam de "desenvolver programas de requalificação, emprego, compensação pela perda de meios de subsistência e outros apoios para garantir que os trabalhadores sejam os principais beneficiários de nossa mudança para um futuro mais verde".

Em seguida, descreve o que está a ser feito na África do Sul, "no nosso sector de eletricidade, que contribui com 41% de nossas emissões de gases de efeito estufa" será alvo de atenção numa primeira fase, com a requalificação de fábricas termoeléctricas a carvão, ao mesmo tempo que se procura "oportunidades na industrialização verde" e se aposta numa maior utilização de veículos eléctricos.

"A África do Sul é dotada de abundantes recursos naturais e minerais. Isso pode ser aproveitado para construir uma nova economia em áreas como energia renovável e hidrogénio verde. A concessionária nacional de energia Eskom realizará um projecto piloto em sua estação de energia da Komati, que deverá fechar a sua última unidade movida a carvão no próximo ano para passar a produzir energia por meio da energia solar. Komati servirá como um exemplo de como a mudança para as energias renováveis ??pode ser alcançada", escreveu Cyril Ramaphosa.

O governo sul-africano definiu recentemente uma meta para emissões líquidas de zero carbono, e essa meta é o ano de 2050. Numa altura em que as emissões sul-aficanas estão nas 500 megatons (megatonelada) de C02, a ideia é que o país passe para as 350 megatons compatíveis com o que está estabelecido no Acordo de Paris, de 2015, o que exigirá uma redução significativa dos combustíveis fósseis.

Mas o Presidente sul-africano também escreve que para chegar a esta meta o país não pode caminhar sozinho.

"As ambições da África do Sul não podem ser alcançadas sem que as economias mais desenvolvidas cumpram as promessas que fizeram de fornecer assistência financeira às economias em desenvolvimento em sua transição energética. Essa ajuda deve vir na forma de doações, empréstimos a taxas compatíveis e investimento privado de fundos financeiros locais e internacionais", escreve, ainda, Ramaphosa.

Também porque, continua Ramaphosa, "os países com economias desenvolvidas são os maiores responsáveis ??pelas mudanças climáticas porque, historicamente, são os maiores poluidores, sendo que as economias em desenvolvimento são as mais afectadas. Além da questão do apoio a uma transição justa, a verdade é que não haverá como evitar a crise climática global se o caminho para a neutralidade carbónica não incluir as economias em desenvolvimento. Na cúpula da COP26, temos uma janela de oportunidade para garantir uma transição justa para todos os países e salvaguardar o futuro de nosso planeta", acabou por concluir o Presidente sul-africano.