Trafigura no centro de negócios pouco claros na África Austral
A multinacional de origem suíça com sede em Singapura, e onde um general angolano teve uma importante participação, agora tida como "residual", tem negócios em vários países do continente africano e sempre um pouco opacos
A Trafigura está em envolvida com Kudakwashe 'Queen Bee' Tagwirei, um relevante empresário e aliado do presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, numa empresa de combustíveis na África do Sul.
"Queen Bee" é um empresário do zimbabueano sancionado pelos Estados Unidos e que está no centro de um crescente escândalo de corrupção do Zimbabué devido a um desmedido controle sobre os recursos do Estado e sobre o partido do poder, a Zanu-PF.
E a Trafigura é - e tal como aconteceu em Angola no tempo de Dos Santos, através do general Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino" - um importante fornecedor de combustíveis para o Zimbabué e tem financiado o governo em algumas situações.
O grupo Sakunda da Tagwirei foi o parceiro local, através de uma uma joint venture, da Trafigura no Zimbabué. Mas, alegadamente, e naquele país, a Trafigura tinha cortado com "Queen Bee" quaisquer ligações comerciais, adquirindo a participação de 51% da Sakunda - também aqui uma história que soa familiar.
A compra desta participação, cujos termos não foram divulgados, ocorreu antes de os Estados Unidos imporem sanções a Tagwirei e à Sakunda no ano passado. E esse parecia ser o fim do relacionamento da Trafigura com o polémico "Queen Bee", mas eis que surge agora ligado ao empresário do Zimbabué na África do Sul.
Suzako, uma empresa sediada na Cidade do Cabo dirigida por um ex-gestor da Trafigura Jozef Behr, está envolvida num contrato potencialmente lucrativo de combustíveis pesados à Eskom, uma empresa sul-africana de energia.
A empresa sul-africana já confirmou que a Suzako é um dos licitantes ao contrato, e a Suzako acrescentou que "tem acordos de fornecimento com muitas empresas internacionais de petróleo".
Mas quem é que controla Suzako? As investigações do Financial Times levam a Tagwirei, sendo a Suzako parte da Sakunda, além do mais, percebe-se através de troca de emails e outros indícios, que os executivos da Suzako responde a "Queen Bee".
Não são óbvias as ligações, porque passam por ramificações várias de outras tantas empresas, algumas delas em offshore, e até, a uma empresa moçambicana, situada no porto da Matola, em Moçambique, muito próximo de uma das maiores centrais da Eskom.
No meio de tudo isto: a Trafigura, que nega quaisquer ligações com Tagwirei. "A Trafigura cumpre integralmente todos os regulamentos e sanções aplicáveis ??nas jurisdições em que opera", garantem os responsáveis da empresa, mas admitem que estiveram ligados "em regime de isenção de interesses" a empresas que apresentaram propostas à Eskom como empresas fornecedoras de combustíveis pesados que, e no caso, sabe-se agora que é a Suzako.