Zimbabué apela a credores que apoiem reestruturação da dívida
A dívida de 21 mil milhões USD, da qual a maior parte refere-se a atrasados, fez com que a dívida se tornasse em "pilhas de sacos de areia nas costas do Zimbabué", ilustrou o presidente do BAD, Akinwumi Adesina. O Presidente do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, pede apoio para permitir que país siga em frente.
"Todos temos de desempenhar o nosso papel para corrigir esta anomalia e dar um novo sopro de vida a esta nação e ao seu povo, para que o Zimbabué possa voltar a funcionar", declarou o presidente do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD), Akinwumi Adesina, reforçando o apelo do Presidente Emmerson Mnangagwa aos credores, para a criação de um roteiro de liquidação de dívidas em atraso que permita ao Zimbabué regressar aos mercados de capitais internacionais.
Sem um acordo de reestruturação e liquidação dos atrasados, o país não consegue dinheiro para financiar programas críticos ao seu desenvolvimento e também não consegue atrair investidores, admite o governo de Mnangagwa, que sublinhou o "tremendo progresso" que o país fez na implementação de reformas económicas para abrir caminho a soluções que resolvam o fardo da dívida, após 23 anos de sanções.
O apelo de Mnangagwa foi dirigido aos credores, em Harare, na 6ª reunião da Plataforma de Diálogo Estruturado de Alto Nível, iniciativa lançada em Dezembro de 2022 pelo BAD para resolver o problema da dívida acumulada pelo país, que em Agosto de 2024 era estimada em 21 mil milhões USD. Montante que representa "um rácio sobre o PIB de 97%", o que deixa "o Zimbabué com capacidade financeira limitada para as suas necessidades de desenvolvimento", como frisou o BAD, que concedeu 4,1 milhões USD para facilitar o diálogo do Governo com os credores.
"Desde o estabelecimento do processo de plataforma de diálogo estruturado em 2022, registámos um tremendo progresso, com crescente consenso, confiança e segurança nesta iniciativa", afirmou o Presidente do Zimbabué. Segundo Mnangagwa, as reformas fiscais, de governação e legislativas empreendidas incluem o lançamento de uma nova moeda local, um mercado cambial mais flexível e transparente e a introdução de novos projetos de lei para reforçar a luta contra a corrupção.
Outras são as reformas sobre a propriedade da terra para promover a confiança dos investidores e um pacote de compensação de 35 milhões USD a mais de 400 agricultores afectados pela reforma agrária de Robert Mugabe, que na década de 1990 resultou na expropriação dos fazendeiros brancos.
Nem as guerras duram tanto
"Fizemos mais progressos em dois anos do que nos 21 anos anteriores, desde que as sanções foram impostas. O diálogo estruturado de alto nível é a única forma, não há outra", afirmou o presidente do BAD, salientando que 23 anos de sanções "deixaram o Zimbabué com uma pilha de dívidas" que ascendeu a 21 mil milhões USD, 13 mil milhões USD de dívida externa e 8 mil milhões USD de dívida interna. "Nem mesmo as guerras duram tanto tempo", rematou.
Os maiores credores multilaterais do país são o Banco Mundial, a quem o Zimbabué deve 1,5 mil milhões USD, o Grupo do BAD, credor de 760 milhões USD, e o Banco Europeu de Investimento, com 427 milhões USD.
Segundo uma apresentação do governo de 2023, 65% da dívida diz respeito a atrasados e multas ao Zimbabué. Segundo o ministro das Finanças, Mthuli Ncube, o país só tem conseguido pagar quantias simbólicas aos credores, que incluem 16 credores bilaterais, o que tem vindo a contribuir para avolumar o montante da dívida.
"A questão da dívida em atraso é um grande problema à volta do nosso pescoço", sintetiza Prosper Chitambara, economista independente baseado em Harare, ao canal turco de rádio e televisão TRT Africa, notando que este é um dos principais obstáculos na captação de investimento externo.
Leia o artigo integral na edição 804 do Expansão, de sexta-feira, dia 29 de Novembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)