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George Soros faz reestruturação na Open Society Foundation

África, onde a filantropia de Soros começou, não será afectada pelos cortes

A fundação do multimilionário investidor norte-americano, a segunda maior fundação privada de filantropia dos Estados Unidos, vai cortar fundos e várias organizações que dependem do financiamento da Open Society Fundation, que apoia políticas de esquerda, podem ficar comprometidas. África e América Latina contrariam esta tendência e terão apoio adicional de mais 75 milhões de dólares.

A Open Society Foudation sofre uma reestruturação. Esta notícia abalou dezenas de outras estruturas em redor do mundo, que dependem do financiamento de George Soros. Mas o que é que esta reestruturação significa na prática.

Muitos dos grupos sem fins lucrativos e independentes dos Estados que beneficiam do apoio da Open Society ficaram inquietos, porque muitos dos subsídios recebidos estão vinculados a doações anuais ou por tempo ainda mais alargado. Por agora, há uma reserva de 400 milhões de dólares a distribuir pelas diversas fundações em redor do mundo, mas, muitos beneficiários, concretamente na área da saúde, ou seja, com instituições ligadas aos cuidados de saúde em áreas de maior vulnerabilidade, ficaram apreensivos quando perceberam que iriam sofrer cortes de financiamento.

De igualmente modo ficaram as organizações que trabalham no apoio aos refugiados, sendo que o próprio Soros é um refugiado dos países do Leste europeu, um judeu húngaro que sobreviveu ao Holocausto. De qualquer modo, através da Open Society foram retirados 270 refugiados do Afeganistão nas últimas semanas.

As mudanças na Open Society são medidas duras mas necessários, evocam os seus dirigentes, lamentavelmente, numa altura em que o mundo se confrontam com uma deriva autoritária, e muito na Hungria natal de Soros, onde, por estes dias, o papa Francisco, em visita papal, apela ao sentido humanista de Viktor Orbán, o primeiro-ministro do país. Em 2018, a Open Society foi forçada a abandonar a Hungria por pressão, justamente, de Orbán.

Mas nos Estados Unidos, Soros e a sua fundação têm sido o alvo preferido da direita, com inúmeras teorias da conspiração relacionadas com radicalismo de esquerda. Aos 91 anos, Soros deve estar demasiado cansada para e de tudo isto. Mesmo que o seu filho, e herdeiro, Alex Soros, de 35 anos, agora na vice-presidência da fundação, venha a assumir um protagonismo crescente.

Soros e Warren Buffett são dois homens que estão com cerca de 90 anos, um e outro, durante décadas financiaram dezenas, ou mesmo centenas, de organizações espalhadas pelo mundo, agora, retiram-se, deixando opara a Fundação Bill e Melinda Gates, que se mantém sólida apesar do divórcio do casal, a tarefa de ser a primeira fundação filantrópica do mundo, sem concorrência.

Malloch-Brown, de 67 anos, um homem que passou pelo Banco Mundial, pelo foreign affairs do Reino Unido e é membro da câmara dos Lordes, está, actualmente, à frente da Open Society em tempo de reestruturação, quando se fala que há 150 funcionários, espalhados pelo mundo, que foram dispensados, e a mesmo pequenas organizações que foram encerradas ou que vão ser.

Entre as regiões que vão ser poupadas pelos cortes estão África e a América Latina, que terão 75 milhões de dólares de financiamento adicional. Aliás, convém lembrar que Soros iniciou a sua actividade filantrópica em 1979, atribuindo bolsas de estudo a estudantes negros na África do Sul e a apoiando dissidente do Leste europeu, uma década antes da queda do Muro de Berlim.

A transformação da Open Society Foudation chega num momento delicado para grandes filantropias - não esquecer, no entanto, os benefícios fiscais que advém desta área de intervenção social, e política. Os debates sobre a diversidade e a inclusão tem levado a repensar as áreas de actuação. No caso da Open Society, foi questionada a mudança na liderança, que passou do congolês Patrick Gaspard para o britânico Malloch-Brown.

No entanto, em África, a Open Society mantém a sua intervenção, e tem para o continente uma estratégia integrada coordenada pela queniana Lynne Muthoni Wanyeki, eliminando quatro núcleos que funcionavam de forma relativamente autónoma.

Em causa não está a doação feita por Soros, em 2018, de 18 mil milhões de dólares, metade da sua fortuna, à Open Society Foundation.