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Opinião

Angola 2024 - As dificuldades manter-se-ão

LABORATÓRIO ECONÓMICO

Em 2024, a economia angolana apresenta cinco grandes riscos: o comportamento do preço do petróleo e a probabilidade de se desviar do cenário de base (USD 68 por barril), apesar do acordo com o FMI, o elevado peso da dívida pública (interna e externa) e do respectivo serviço pode limitar a captação de investimento directo estrangeiro e a contracção de empréstimos nos mercados internacionais (apesar da assistência do FMI), potencial efeito negativo de contágio sobre o sector financeiro derivado da transição para um regime cambial flexível, choques sobre a dívida pública provenientes do baixo crescimento do PIB e do possível abaixamento do preço do barril de petróleo e, por fim, um mais do que esperado (programado) declínio na produção de petróleo...

A desglobalização parece ser um dos desafios que a economia mundial vai enfrentar nos próximos anos, assim nos informam os sinais provenientes dos Estados Unidos (com uma forte probabilidade de diminuição do seu crescimento face à política monetária restritiva da FED) com a sua obstinada política de isolamento "America First" e da União Europeia com a saída do Reino Unido (a vontade de deixar o espaço único e integrado também é partilhado por outros Estados da União Europeia, cansados da burocracia de Bruxelas, da sucessiva perda de autonomia das políticas económicas nacionais e, afinal, da não realização da maior promessa da integração económica, que era a da diminuição das desigualdades económicas e da aproximação das condições de vida dos cidadãos europeus) e com uma crescente instabilidade política provocada pela ascensão de movimentos extremistas fortemente apoiantes do fechamento das fronteiras aos migrantes (mais tarde se verá se também a outras franjas da população mundial e mesmo europeia). A China é, por enquanto, o grande contrapeso a esta desglobalização do desenvolvimento e uma das mais importantes defensoras do livre comércio e do aprofundamento das relações económicas baseadas nas forças de mercado e na livre concorrência. Evidentemente que estas situações penalizam o crescimento mundial, tornando-o mais local, chauvinista, egocêntrico e individualista. As previsões do Fundo Monetário Internacional, apresentadas no World Economic Outlook de Outubro de 2023, vão justamente no sentido de uma menor intensidade do crescimento nas economias mais avançadas em 2024 (uma diminuição generalizada em todas as economias que integram este espaço económico mundial e que se pode prolongar até 2028), com repercussões sobre todas as restantes economias do espaço-mundo, emergente e não emergentes. A África subsariana pode constituir uma excepção, ao colocar a sua taxa de variação do PIB em 4,0% em 2024, um ganho de 0,7 ponto percentual face a 2023, mas com a sua maior economia (Nigéria) s crescer apenas 3,1%.

Em 2024, a economia angolana apresenta cinco grandes riscos: o comportamento do preço do petróleo e a probabilidade de se desviar do cenário de base (USD 68 por barril), apesar do acordo com o FMI, o elevado peso da dívida pública (interna e externa) e do respectivo serviço pode limitar a captação de investimento directo estrangeiro e a contracção de empréstimos nos mercados internacionais (apesar da assistência do FMI), potencial efeito negativo de contágio sobre o sector financeiro derivado da transição para um regime cambial flexível, choques sobre a dívida pública provenientes do baixo crescimento do PIB e do possível abaixamento do preço do barril de petróleo e, por fim, um mais do que esperado (programado) declínio na produção de petróleo (com redução da dinâmica do PIB, do montante das receitas fiscais e da viabilidade da nova política cambial). Afinal, tudo em redor do petróleo, a grande determinante e em situações de crise a maior incógnita do crescimento económico e do desenvolvimento social do país.

A redução desta dependência vai levar anos e a diversificação das exportações mais tempo ainda, porque o país não tem um ADN exportador (para lá do petróleo e eventualmente da energia) - capacidade de penetração e de criação de parcerias, competitividade, conhecimento dos mercados externos, inovação de produtos e processos, etc. Os mercados internacionais são muito exigentes, não devendo ser encarados de ânimo leve, como decorre de muitas intervenções públicas bombásticas sobre a dinâmica da economia e a saúde das finanças do Estado (exceptuam-se, neste específico domínio, intervenções, posturas e posicionamentos mais realistas da parte de poucos ministros e ministras, sendo suficiente ler e entender o âmago dos seus discursos). O Estado não pode continuar a ter uma atitude paternalista para com os potenciais exportadores (em muitos fóruns sobre esta temática, os representantes do Governo prevalecem nesta postura) devendo, tão-somente, garantir o bom funcionamento dos mercados, com taxas de juro baixas e disponibilidade de crédito (para isso o Estado tem de deixar de ser um competidor do sector privado nos mercados financeiros e reduzir a sua dívida), a diminuição significativa da burocracia (o PDN 2023-2027 cria algumas expectativas sobre esta matéria, mas não acredito que o consiga numa proporção significativa, face à mentalidade prevalecente nos funcionários públicos e que vai predominar ainda durante muito tempo, dado que faz parte do seu comportamento e temperamento resistentes a todas as acções de formação que o Ministério da Administração Pública possa realizar, a melhoria do ambiente de negócios e a redução expressiva dos chamados custos de contexto. Tão simples quanto isto, podendo mesmo serem dispensáveis estratégias e mais estratégias sobre esta temática(1).

Leia o artigo integral na edição 765 do Expansão, de sexta-feira, dia 01 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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