Os desafios de Angola nos próximos anos
A população cresce rapidamente aumentando a pressão sobre o Estado para garantir serviços sociais, infra-estruturas e melhores condições de vida, tanto nas cidades quanto no meio rural. Com uma população maioritariamente jovem, o país necessita ampliar a criação de empregos, fortalecer o ensino técnico-profissional, diversificar a economia e modernizar os serviços públicos.
Novembro, os seus 50 anos de independência. Este é um marco histórico que reflecte um longo percurso repleto de sacrifícios, tristezas e alegrias, mas, acima de tudo, de perseverança, resiliência e esperança. As celebrações foram conduzidas com o requinte que as bodas de ouro merecem. Luanda transformou-se, ao longo do mês, num verdadeiro palco de encontros marcantes, reunindo diversas entidades e personalidades de várias partes do mundo.
No dia 11 de Novembro de 2025, Luanda acolheu inúmeros chefes de Estado e de Governo, reforçando a importância do momento no contexto internacional. Entre os eventos de destaque, a 7ª Cimeira União Africana-União Europeia como marco de cooperação e diálogo entre continentes, selando um rol de acontecimentos significativos que marcaram as comemorações dos 50 anos de independência de Angola.
Os festejos envolveram amplos esforços humanos e financeiros, não apenas na organização dos eventos, mas também na mobilização de recursos em todo o país. Ao longo destas cinco décadas, Angola trilhou um percurso marcado por profundas transformações. Desde a construção das instituições do Estado até à consolidação gradual da paz e da estabilidade, o país enfrentou desafios complexos, mas também registou avanços significativos em diversas áreas.
No campo social, registaram- -se avanços na educação, na saúde e no acesso a serviços essenciais, apesar de persistirem dificuldades que exigem atenção especial contínua. No âmbito económico, Angola passou por ciclos de avanços e recuos, influenciados sobretudo pela volatilidade do preço do petróleo, procurando apostar na diversificação da economia. Celebrar 50 anos de independência é, portanto, olhar para trás, reconhecer o caminho percorrido, aprender com os erros do passado e reafirmar o compromisso de continuar a construir um futuro de progresso, justiça e oportunidades para todos.
Nestes cinquenta anos a população angolana cresceu exponencial, reflectindo profundas transformações que marcaram a trajectória do país desde a independência. Segundo o Banco Mundial, nos primeiros anos após a independência, Angola tinha cerca de 7,02 milhões de habitantes, com 80% a viver em áreas rurais. Hoje, a situação se inverteu: a maior parte da população está concentrada nas cidades, especialmente em Luanda. As causas desse êxodo rural estão profundamente ligadas a décadas de conflito armado, que destruíram grande parte da estrutura económica, comercial e agrária existente até 1975.
Além disso, a falta de investimento em infra-estruturas rurais e a concentração de oportunidades nas cidades contribuíram para o movimento massivo da população em direcção aos centros urbanos. Sem condições de segurança, nem oportunidades no campo, milhões de angolanos migraram para as cidades em busca de protecção, emprego e serviços básicos. Hoje Angola conta com 36 milhões de habitantes, segundo o Censo de 2024 do INE. Essa realidade demográfica coloca novas exigências ao país.
A população cresce rapidamente aumentando a pressão sobre o Estado para garantir serviços sociais, infra-estruturas e melhores condições de vida, tanto nas cidades quanto no meio rural. Com uma população maioritariamente jovem, o país necessita ampliar a criação de empregos, fortalecer o ensino técnico-profissional, diversificar a economia e modernizar os serviços públicos. Sem essas respostas estruturais, o capital humano que hoje se apresenta como vantagem pode transformar-se num factor potencial de instabilidade política e social nas próximas décadas.
*Norberto Carlos, Docente Universitário












