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Opinião

Falta de senso no Censo

EDITORIAL

Para confirmar que já ultrapassámos os 36 milhões de habitantes e que estamos a crescer a mais de 1 milhão de cidadãos/ano, um gasto de 300 milhões USD é um valor exagerado. Acho eu... O que também nos incomoda, aos que, na verdade, se preocupam com o País, é a forma como este Censo foi apresentado.

Realmente este Censo envergonha-nos a todos. A forma como foi conduzido, a taxa de exclusão perto dos 30%, a falta de indicadores fundamentais, como o emprego e o uso de internet, mas mantendo um custo elevadíssimo, 300 milhões USD, devia merecer uma abordagem mais dura por parte de quem governa.

Os envolvidos deviam ser responsabilizados, perceber bem quem planeou e quem executou. Começar por cima e dar explicações precisas porque é que se transformou um Censo num estudo de opinião, que resulta no máximo, numa projecção de quantos somos, quem somos e o que fazemos. Tudo na área do talvez, mas com poucas certezas. E, sem bases sólidas, não é possível desenvolver políticas públicas sérias. Sérgio Calundungo diz nesta edição do Expansão: "Uma margem de erro tão grande tem impactos profundos nas políticas públicas, porque sem o conhecimento real de onde e como vive a população, a alocação de recursos é feita cegamente".

Bem, a questão que se segue é "para que vai servir este Censo?" E, neste particular, parece que todos os especialistas estão de acordo, a margem de erro é tão grande, as informações são tão curtas, que talvez fosse necessário completar este projecto de uma forma séria.

Na verdade, para confirmar que já ultrapassámos os 36 milhões de habitantes e que estamos a crescer a mais de 1 milhão de cidadãos/ano, um gasto de 300 milhões USD é um valor exagerado. Acho eu... O que também nos incomoda, aos que que na verdade se preocupam com o País, é a forma como este Censo foi apresentado. Como se tratasse de algo normal a mobilização enorme de pessoas e meios, a utilização das mais modernas tecnologias e depois as queixas de milhões de cidadãos que dizem não ter sido contactados. Não se pode ficar confortável com esta tentativa de tentar parecer que o que se passou é uma coisa normal, que a nossa incompetência em cumprir o projecto com resultados minimamente aceitáveis é aceite de forma natural, como se nós angolanos não fossemos capazes de ser sérios e competentes.

Da forma como as coisas estão a ser conduzidas, parece-me que apesar de todos fingirem que os resultados deste Censo são importantes, ninguém vai utilizá- -los para definir coisas importantes. O que até dá algum jeito, uma vez que o País tem muita dificuldade em lidar com políticas de médio e longo prazo, gosta mesmo é desta condução à vista, onde não existe controlo nem avaliação. Também existe aquela mania de escolher para estes projectos de grande magnitude, pessoas por conveniências pessoais ou políticas, afinal há muito dinheiro em jogo, em vez das competências técnicas ou o patriotismo.

O que parece completamente ridículo é que fala-se nisto tantas vezes mas estes erros repetem-se sucessivamente. Sem que ninguém seja verdadeiramente responsabilizado. Todos a ganhar com esta nuvem de despesismo e incompetência...

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