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Opinião

A sangria das poupanças para o estrangeiro

CONVIDADO

A sociedade está a metamorfosear-se em posicionamentos: muitos políticos, empresários, altos funcionários públicos, da banca, do grande comércio e das multinacionais não acreditam no próprio país. Têm medo, estão inseguros nas suas convicções e atitudes. Substituíram os princípios pelo desengajamento, pela crença de que qualquer estado positivo, qualquer esperança, é uma perigosa ilusão.

Recentemente, a ministra das Finanças, Veras Daves de Sousa, disse, alguns dias antes do discurso à Nação do Presidente, na Assembleia Nacional, que uma boa parte dos angolanos faz as suas poupanças no estrangeiro. No fundo, ela disse que aqueles que têm dinheiro de sobra, políticos, altos funcionários do Estado, de empresas públicas e privadas, não confiam no sistema financeiro nacional. A informação da ministra que, como disse, "não é segredo para ninguém", mostra que o país está a sangrar capitais e a economia vai mal. E indicia também o que esses endinheirados pensam.

Empresários, que encontram enormes dificuldades para conseguirem cambiais nos bancos, dizem que é muito arriscado confiar nos nossos bancos. Asseguram mesmo que a melhor maneira para sobreviver no mundo empresarial, em Angola, tem de se aprender a lidar com a diversidade. Estas adversidades revestem- -se essencialmente de três formas: lutar por cambiais ao preço oficial, tarefa desafiadora e morosa, possuir uma conta no exterior, ou, como último recurso, lançar mão à informalidade.

A inflação tem tudo a ver com esses factores, ela deriva também do desvio de divisas do mercado formal para o informal. Há angolanos que despejam divisas no informal, onde o dólar, o euro ou o rand são vendidos 30 ou 40 por cento mais caro do que no mercado formal. A negociata enriquece indivíduos e alavanca o ilícito. Esses abastados têm acesso a elas e tiram proveito dos desequilíbrios da economia.

A sociedade está a metamorfosear-se em posicionamentos: muitos políticos, empresários, altos funcionários públicos, da banca, do grande comércio e das multinacionais não acreditam no próprio país. Têm medo, estão inseguros nas suas convicções e atitudes. Substituíram os princípios pelo desengajamento, pela crença de que qualquer estado positivo, qualquer esperança, é uma perigosa ilusão.

A inflação, a instabilidade dos preços, as dificuldades de acesso aos cambiais e a baixa produção geram insegurança e tudo isso afugenta os capitais.

A nossa economia não é fiável e ninguém se arrisca num cenário onde as poupanças se esfumam. Preferem guardá-las em lugar seguro onde, cedo ou tarde, poderão desfrutar delas ao sabor de um rico salmão, mortadela ou arrotar caviar.

lo objectivo: submeter a sociedade ao martírio indefinido e amealhar dinheiro cada vez mais. O que Vera Daves deixou nas "entrelinhas", no fundo, é que aqueles que deveriam servir como guardiões e dar segurança servem-se deles, individualmente, e alimentam aqui o desespero social e o descrédito.

No fundo, há mandriões que se transvertem de vendedores de ilusões, ora se impondo pela simpatia, ora para nos engambelar. É o que começa a acontecer. Com o sacrifício da maioria da população, a elite da alta esfera, pública e privada, se faz glória.

Na base, no povo, prevalece o medo em relação ao futuro. O discurso do Presidente sobre o Estado da Nação procurou afagar essas incertezas. Mas, infelizmente, o país real é outro. Porque há gente desalinhada, gente incapaz, desqualificada, sobretudo, gente que não tem vontade, nem quer avançar. A sangria dos nossos recursos é sinal disso mesmo.

Honestamente falando, temos de reflectir. Se queremos um país melhor, se amamos a nossa terra, a nossa família, os nossos filhos, vamos ajudar a fazer diferente. Porque há uma frustração desesperadora que limita as possibilidades de viver.

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