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Opinião

Amigo americano

EDITORIAL

Se África do Sul é o grande parceiro da China na região, Angola está agora mais perto do "amigo americano", é com ele que conta para alavancar alguma reformas que o País necessita, o que faz algum sentido dentro do equilíbrio de forças na região da SADC.

O possível alinhamento de Angola com os BRICS, que parecia natural no final de 2018, parece hoje muito mais distante na exacta medida em que se vão fortalecendo as relações com os Estados Unidos. O recente anúncio do apoio americano à construção da nova linha ferroviária Lobito-Zâmbia confirma o reforço dos investimentos daquele País na construção de infraestruturas estruturantes no País e que vinham a aumentar desde 2019.

Independentemente de se estar ou não de acordo, esta é uma estratégia que se vai reforçar nos próximos anos, e que vai obrigar a diplomacia do País a um enorme esforço na gestão da relação com a China, que continua a ser o maior credor de Angola e o principal cliente das nossas exportações, mas também com a Índia e com o Brasil, que estão assumidamente a construir com os chineses um bloco alternativo ao domínio ocidental (EUA e UE) da economia mundial.

É necessário recuar uns anos para perceber que esta opção sempre esteve na agenda do Presidente João Lourenço. Ainda ministro da Defesa, mas já candidato à liderança do MPLA e do País, esteve em 2017 numa visita oficial aos Estados Unidos, onde foi recebido pelas altas autoridades militares daquele País e que serviu também para esclarecer alguns pendentes com aqueles que seriam os rostos do "futuro poder" em Angola.

Depois da pandemia, João Lourenço esteve três vezes nos Estados Unidos. Em Setembro de 2021, na 76.º sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Março de 2022 em visita privada, dias depois de ter recebido em Luanda o novo embaixador daquele País, Tulinabo Mushingi, que alterou radicalmente o discurso da sua antecessora face ao governo angolano e foi mesmo o primeiro diplomata a reconhecer a vitória do MPLA nas últimas eleições gerais e, em Dezembro de 2022, esteve na cimeira EUA-África.

Fez também uma aproximação aos principais países europeus, Alemanha, França, Espanha e Itália, assumindo uma parceria tácita com o "mundo ocidental", em detrimento de antigas alianças do ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Aceitou também algumas das mudanças que eram exigidas pelo FMI e pelo Banco Mundial.

Se África do Sul é o grande parceiro da China na região, Angola está agora mais perto do "amigo americano", é com ele que conta para alavancar alguma reformas que o País necessita, o que faz algum sentido dentro do equilíbrio de forças na região da SADC.

Obviamente que não dá para ter um pé em cada um dos lados, mas com equilíbrio e bom senso é possível estar numa equipa, mas manter boas relações com todo os outros que estão do lado de lá do campo. Esse é o grande desafio de Angola no futuro, depois de termos escolhido a cor da camisola para os próximos e difíceis jogos que se aproximam.

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