Angola 2014-2024: Uma década perdida. Como serão os próximos 10 anos?
A verdade é que, a menos que ocorram mudanças significativas, o futuro apresenta-se desolador. A falta de diversificação económica, a ausência de uma estratégia clara para o desenvolvimento do sector agrícola e da indústria transformadora, e a perpetuação de um modelo económico dependente de recursos naturais tornam a situação ainda mais crítica.
A última década da história de Angola é um reflexo de um potencial económico não concretizado, de promessas não cumpridas e de uma estagnação que corrói a esperança dos cidadãos e do país como um todo. De 2014 a 2024, a economia angolana registou um período de recessão e estagnação, sem rumo e sem mudanças estruturais significativas. O discurso da diversificação económica permaneceu uma retórica e as promessas de autossuficiência e segurança alimentar dissiparam-se como uma miragem em pleno deserto, estando o país ainda muito dependente de importações. Um país que possui um vasto inventário de recursos naturais, um território fértil e uma população maioritariamente jovem permanece estagnado, com uma economia que não ultrapassa as barreiras de um sistema dependente de petrodólares. O país parou. Ou seja, recuou!
Os indicadores sociais estão uma lástima. A pobreza afeta mais de 40% da população, o desemprego juvenil continua a ser um problema gravíssimo, com taxas que superam os 50%, sem políticas e estratégias para explorar os dividendos demográficos deste grande potencial da força de trabalho que o país possui. A qualidade de educação, que deveria ser a chave para o desenvolvimento sustentável definha a cada dia, enquanto os serviços de saúde expõem a miséria social em que os cidadãos estão expostos, com as unidades hospitalares incapazes de dar resposta à multidão de pessoas que ocorrem a elas à procura de serviços médicos e medicamentosos, cuja inoperância é cada vez mais visível. O cidadão angolano comum, que na sua essência carrega a força e a habilidade de realizar o trabalho da terra é constantemente desiludido pela incapacidade do Estado em proporcionar-lhe as condições mínimas necessárias para a sua autorrealização.
A instabilidade dos indicadores macroeconómicos é um reflexo das medidas de políticas económicas desconcertantes. A inflação alta, que suprime o já parco poder de compra dos angolanos, e a depreciação cambial que torna os produtos importados inacessíveis, para um país com fraca capacidade produtiva, têm exacerbado a miséria da população. Os serviços públicos ineficientes e em muitos casos disfuncionais tornam a vida do cidadão cada vez mais difícil e insustentável. A política fiscal não tem conseguido equilibrar as contas do Estado, e o serviço da dívida consome mais de 50% das despesas públicas, como um monstro insaciável que engole os recursos que poderiam ser utilizados para promover investimentos em infraestruturas, educação e saúde.
O sector privado - se é que podemos chamá-lo assim - continua a confrontar-se com um ambiente de negócios adverso com elevados custos de contexto. Corrupção, burocracia associada aos estrangulamentos regulamentares e a baixa produtividade são gargalos que têm impedido o crescimento e a competitividade da economia. Os empresários angolanos enfrentam barreiras burocráticas que não têm fim, e aqueles que ousam tentar inovar ou empreender, enfrentam uma montanha de obstáculos que os empurram para a margem da economia.
Com tudo isto, como será o país nos próximos 10 anos? A verdade é que, a menos que ocorram mudanças significativas, o futuro apresenta-se desolador. A falta de diversificação económica, a ausência de uma estratégia clara para o desenvolvimento do sector agrícola e da indústria transformadora, e a perpetuação de um modelo económico dependente de recursos naturais tornam a situação ainda mais crítica. O que esperar de uma economia que, ao invés de se transformar e evoluir, insiste em manter-se refém do petróleo, num mundo cada vez mais voltado para as energias renováveis e permanente preocupação com a sustentabilidade ambiental?
O caminho pela frente é árduo. Contudo, a mudança deste quadro exigirá coragem, liderança com visão e a implementação de políticas económicas audaciosas. A diversificação da economia, que enche os discursos políticos sem, no entanto, registar avanços, deve ser encarada como uma prioridade absoluta. O país precisa, urgentemente, de desenvolver sectores produtivos como a agricultura, a indústria transformadora e a economia digital. A estratégia deve ser clara e focada na criação de empregos sustentáveis, na melhoria da produtividade, competitividade e na redução da dependência externa. Angola precisa de mudança de paradigma na forma como encara os desafios das mudanças estruturais necessárias, e romper com o ciclo de estagnação da última década, racionalizando a exploração dos seus recursos naturais e criando valor para a população.
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