Ferramentas de negócio... e o futebol
Que lições de gestão desportiva podemos adoptar nas empresas? Vamos analisar o estranho caso de sucesso de países pequenos em gestão desportiva.
Que lições de gestão desportiva podemos adoptar nas empresas?
Vamos analisar o estranho caso de sucesso de países pequenos em gestão desportiva.
Um país com 10 milhões habitantes pode ao mesmo tempo ser um dos países que forma os melhores jogadores de futebol do mundo?
Mantendo todas as outras variáveis intactas, parte-se do princípio que um maior número de pessoas aumenta directamente a probabilidade de produção de melhores jogadores, pelo simples facto de existir um maior "pool" de escolha.
Ora, seguindo o raciocínio (# População vs Posição no ranking), este país estaria algures em 93.º no Ranking da FIFA no que toca à qualidade da sua selecção.
A verdade não poderia ser mais diferente, sendo que dos 211 países no ranking de futebol o mesmo está posicionado como a 8.ª melhor equipa.
Isto pressupõe, portanto, que a performance do país nas outras variáveis seja de tal forma alta que faz com que passe de 93ª, em termos de volume de escolha, para a 6ª melhor em termos de qualidade.
Para este texto, vamos estipular uma premissa:
¦ Sendo certo que quantidade não representa necessariamente qualidade, a falta da primeira não contribui para a segunda.
Como gestor, recuso-me a ignorar a falta de correlação entre o binómio quantidade/qualidade, então vamos investigar...
Sendo que o objectivo de qualquer negócio passa por aumentar a performance com o menor número de recursos possível, vamos desconstruir este caso de sucesso utilizando ferramentas de gestão de forma a perceber como podemos traduzir estas práticas numa realidade empresarial.
Na primeira aula de Gestão ensinam-nos a olhar para a conjuntura, através de uma sigla que soa a doença infecciosa, PEST ou algo do género.
Vamos focar-nos no S, de Social, que neste caso cria um contexto muito favorável.
Existir na sociedade uma grande tradição de futebol faz com que exista a prática do desporto em qualquer canto. Naturalmente, isto cria uma grande quantidade de talento bruto.
Mas a conjuntura nunca explica tudo. Grande parte do sucesso de um negócio pode e deve ser explicado por actos internos de gestão.
Ao longo da estratégia de negócio é necessário construir uma cadeia de valor para que a matéria-prima seja transformada num produto final consumível. Esta cadeia de valor consiste em 2 linhas de produção transversais, uma core e uma de suporte. Nada mais nada menos que um conjunto de actividades e recursos executados sequencialmente.
Diz-se que a matéria-prima de um produto é um recurso crucial. Como tal, a prospecção do fornecedor deve ser tratada como uma actividade core. Imaginemos um Wikipédia, onde o conteúdo é agregado fazendo recurso a inteligência colectiva. A prospecção de talento no futebol também passou de um processo centralizado, onde apenas x crianças passavam por um filtro anualmente, para um processo descentralizado, fazendo recurso à inteligência colectiva.
Vamos analisar com rigor. A metodologia de gestão MECE (Mutually Exclusive Collectively Exaustive) permite-nos desconstruir todas as componentes de um problema de forma cumulativa e sequencial, garantindo que o todo é igual à soma das partes. Na prática, foi aplicado um conceito semelhante no que toca à prospecção de talentos. Um funil que começa no ensino primário, seguido pela criação de escolas subsidiárias representantes dos clubes nos municípios e cidades dos países. Onde não for viável a criação de uma escola de formação de raiz, são criadas parcerias com escolas mais pequenas, através de financiamentos e apetrechamentos, com a contrapartida de que os talentos identificados sejam mapeados pelo clube patrocinador. Mapeando-se o país de município a município, garantindo a cobertura de todo o seu território, o tal cumulativamente exaustivo. Estar associado a instituições desportivas faz com que todas as escolas adoptem metodologias de treino de alta performance. Como em qualquer empresa, ter procedimentos, métricas e parâmetros de análise padronizados permite ao clube de origem fazer uma avaliação homogénea e imparcial da sua matéria-prima ou neste caso "pool" de talento. Esta cadeia garante um abastecimento de forma sustentável, filtrando-o de forma orgânica, "Up or Out". O que não é bom suficiente, sai.
Formado o talento ou criado o produto, falta agora levá-lo para o mercado.
O processo de "Go To Market" foi gradualmente afinado ao longo do tempo. O propósito desta fase é levar o produto desenvolvido nas fases anteriores para o mercado, mais rápido e com as maiores chances de sucesso possível. Hoje, em vez de um jogador de formação ir directamente para a equipa principal, onde a probabilidade de sucesso é reduzida, foi criado um canal de adaptação gradual, criando mais 2 escalões de formação, já num contexto profissional. O escalão de sub-23 que concorre entre outras equipas do mesmo escalão etário e num contexto mais acima as equipas B"s que são enquadradas já nas ligas profissionais. Isto permite aos jovens jogadores competir ao mais alto nível profissional imediatamente abaixo da primeira liga. Traduzindo isto para produto, lançar por ex. um piloto/mvp aumenta naturalmente a probabilidade de sucesso aquando da integração no mercado.
No entanto para sustentar qualquer negócio é necessário gerar receitas.
Leia o artigo integral na edição 786 do Expansão, de sexta-feira, dia 26 de Julho de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)