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Universidade

Revistas internacionais cobram em média 2 mil USD para publicação

SALÁRIOS DOS PROFESSORES NÃO ACOMPANHAM CUSTOS DE PUBLICAÇÃO

Publicar um artigo científico tem custos, dependendo da política da revista, do tipo de acesso entre outros critérios. Apesar dos custos, académicos angolanos defendem que os investigadores e docentes devem continuar a publicar, porque, com publicações, ganham-se créditos científicos.

O valor cobrado para publicar um artigo científico numa revista de prestígio internacional de acesso fechado custa em média 2 mil USD (o equivalente a 1,8 milhões Kz, ao câmbio do BNA do dia 14 de Maio), de acordo com uma pesquisa do Expansão por várias revistas científicas internacionais. Mas os custos podem ir até aos 11.390 USD no caso de artigos publicados em revistas de acesso gratuito aos leitores.

O custo de publicação de um artigo numa revista científica de prestígio internacional varia, dependendo da política da revista e do tipo de acesso, que pode ser aberto (onde os interessados conseguem ter acesso desde que estejam inscritos), fechado (os interessados pagam uma taxa para ter acesso à pesquisa, mesmo não estando inscrito) e o gratuito (cujo acesso é aberto a todos).

Para publicar numa revista do grupo britânico Nature ouna American Sociological Review e Science o preço mais baixo é, em média, dois mil USD, mas nesse caso o acesso dos leitores é fechado.

Noutros casos de acesso fechado, os valores vão de 1.160 USD, na Plos One, uma revista multidisciplinar, aos 2.675 USD cobrados pela Frontiers in Tuberculosis, uma revista mais voltada para a área da medicina.

Os autores que desejam que o acesso ao público seja gratuito deverão pagar mais para publicar os seus artigos, em relação aos que remetem para o modelo de acesso fechado. Por exemplo, a Springer Nature, que publica trabalhos em áreas que vão da Física à Saúde e que é uma das revistas mais prestigiadas no meio académico, chega a cobrar 11.390 USD por artigo de acesso gratuito, pois a editora entende que o autor deverá custear o acesso ao seu trabalho.

Publicar custa 4 vezes mais que salário de investigadores

Apesar de não existir uma métrica que nos permita aferir a quantidade de publicações de investigadores angolanos em revistas científicas, académicos admitem que há poucos trabalhos publicados por razões que vão do valor da publicação, ao incentivo, passando pelo factor língua.

Por exemplo, um investigador coordenador, que ganha 495 mil Kz de salário base, precisaria de pelo menos 1,8 milhões Kz só para cobrir o valor médio de publicação numa revista de prestígio internacional. Feitas as contas, um investigador precisaria de quatro salários para publicar um artigo.

Ainda assim, os académicos defendem que é necessário que os investigadores pesquisem e publiquem, porque ganham créditos científicos e isso traz prestígio à instituição onde lecciona, ou seja, a pessoa passa a ser reconhecida pelos seus pares como especialista.

"Lamentavelmente, pouco publicamos em revistas de prestígio internacional. Mas precisamos fazê-lo, pois é sinal de prestígio para Angola, para as instituições onde os autores trabalham e para os próprios autores", aponta Paulo de Carvalho, presidente da Academia Angolana de Letras (AAL).

Para o investigador Dorivaldo Manuel, deve haver mais incentivos à investigação, pois ainda há pouco interesse por parte do Estado em relação à prática dos compromissos com a educação, ciência e tecnologia, sem descurar a investigação.

"É só olharmos para o Decreto n.º 94/24, que proclama as novas remunerações para a carreira de investigador científico, e vamos perceber que 495 mil não é assunto de glória e motivação, quando comparamos com um funcionário da AGT, que ganha milhões", exemplifica.

Já o professor auxiliar da Faculdade de Medicina da UAN, Emanuel Catumbela, que pagou 2.672 USD para publicar um artigo na Frontiers in Tuberculosis, reiterou que a publicação é muito cara e, por isso, tem de existir um sistema de apoio e estímulo à investigação, porque vontade de publicar não falta aos investigadores e docentes.

Por outro lado, Fernandes Wanda, aponta que ainda existem várias barreiras que vão desde a língua, pois as revistas mais importantes apenas tendem a publicar na língua inglesa.

"Para se fazer uma investigação, o indivíduo normalmente precisa ter acesso a financiamento e é neste quesito que as universidades e seus docentes em Angola perdem. Na ausência de fundos, o indivíduo dificilmente consegue fazer uma pesquisa com a qualidade exigida por essas revistas. Nas universidades dá-se primazia ao ensino e menos à investigação e, como resultado, ao docente não é dado tempo para fazer pesquisa. Muitos acabam por fazer isso no seu tempo de repouso", revela Wanda.

Leia o artigo integral na edição 826 do Expansão, de sexta-feira, dia 16 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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