"Às vezes, penso que não faz sentido sermos um país fundado por um escritor"
É prémio Sagrada Esperança de 2018, com a obra "A festa dos porcos", depois de publicar "O taxista". Agora lança "O camaleão no executivo", na vila de Catete, no dia 2 de Abril. É apologista da descentralização da arte em Luanda.
Quando é que começou a escrever?
Decidi começar a levar a escrita a sério em 2015, mas a primeira obra só publiquei em 2019. Foi o livro "Ser taxista", um romance que fala sobre o quotidiano da classe, e que venceu um concurso, "Prémio Azul", em 2017, organizado pelo Ministério do Interior, só para a polícia.
E o "Camaleão no executivo", que lançou este sábado, como surge?
Em 2016, passei a escrever crónicas para os jornais. Comecei no Cultura e agora também no jornal O País. Nos textos, sempre usei a criatividade e o trocadilho para deixar ver as minhas ideias.
Ao abrir o livro, encontramos o camaleão?
Temos camaleões em todas as áreas da nossa sociedade, cada leitor vai descobrir se é ou não camaleão no que faz (risos). São crónicas. Aliás, esta que dá título ao livro já foi publicada no jornal Cultura, porque lá eu conseguia ter os textos mais artísticos. O livro con[1]tém 17 textos.
Todos abordam o quotidiano angolano?
Não. Com excepção de um ou outro. Por exemplo, temos um que faz uma grande exaltação à beleza da mulher angolana. Brinquei com a história mundial, e procurei o rosto de uma mulher que inspirou a criação de Mona Lisa, em 1503. Faço uma recreação dizendo que aquele rosto pertence a uma angolana, mas por ser na Era da escravatura, não se podia dizer isto.
E quanto ao nome?
Segundo o artista, ele encurtou o nome da menina que encontrou numa aldeia em Massangano, e pergunta pelo nome e a mãe da menina responde: yu moname Lisa. Depois começa a chover e o senhor saí dali à pressa. Quando pinta o quadro e o autor encurtou o nome para Mona Lisa.
O que o levou a escolher Catete para lançar o livro?
Primeiro, porque estive lá numa actividade para celebrar o 99.º aniversário da vila de Catete. Fui convidado por altura da edição 2018 do prémio Sagrada Esperança, para autografar a obra "A festa dos porcos" e encontrámos um grupo de jovens muito dinâmico, que estuda a história e incentiva à mudança de mentalidades e que procura colocar Catete no Mapa. E, como não tenho poder financeiro, decidi levar lá a venda e sessão de autógrafo do livro para ajudar de alguma forma.
Junta a isso a celebração do centenário de Agostinho Neto?
Sim.
Não receia promover a venda do livro fora de Luanda?
É este o desafio, por isso levei a proposta à editora. Catete é aqui próximo, é Luanda. Somos apologistas que o País não é só Luanda. Acredito que, se tudo correr bem, vai incentivar os outros criadores a visitar Catete e outras paragens do país para apresentar as suas obras.
Contaram com patrocínios?
Não! Os custos foram da editora Palavra e Arte. A grande coincidência é que comecei a escrever os meus textos no Facebook, mas depois o responsável da editora, o Luefe Khayari contactou-me, disse que gostou dos meus textos e queria que passasse a escrever para a sua revista digital. Foi um grande desafio, porque o Luefe também escreve. Quando visitei a sua página no Facebook, fiquei com receio de o decepcionar, mas avancei com um texto que depois publiquei no jornal Cultura.
Serão quantos exemplares?
Na verdade, é uma tiragem pequena, serão 500 exemplares, porque os custos são muito elevados. Aliás, é preciso perceber que quanto maior for o número de exemplares, mais barato chega às mãos dos leitores.
Como mudar esta realidade e conseguir mais patrocínios?
Falei sobre isso no discurso de outorga do prémio Sagrada Esperança. Chamei a atenção para a questão do decreto presidencial da Política Nacional do Livro e da Leitura, que precisa de ser implementado, porque ganha a cultura e o País, no geral. Às vezes, penso que não faz sentido sermos um país fundado por um escritor.
O preço do livro é algo com que se debate sempre?
Temos muita dificuldade em mandar livros para as províncias, porque o serviço logístico todo fica comprometido com o preço. Ainda temos a questão de ter enviado livros a pessoas nas outras províncias e não entregam os valores a tempo e quando chega vem a faltar.