Ataque do Irão a Israel inverte tendência de queda do preço de barril
Aumento da oferta mundial, arrefecimento das principais economias e a existência de reservas significativas empurram o preço do crude para baixo. A situação geopolítica na Ucrânia e a possibilidade de um conflito em larga escala no Médio Oriente empurram o preço para cima.
O ataque do Irão a território israelita no passado dia 1 de Outubro fez disparar o preço do barril de petróleo (Brent), cresceu 3 USD e fechou a ssessão a 74,6 USD/barril, invertendo a tendência de queda que se verificava na última semana com valores perto dos 70 USD. A tendência manteve-se na quarta-feira, embora no final da sessão tenha voltado a baixar, exactamente porque não houve qualquer reteliação por parte dos israelitas, e parece que nos próximos dias a situação será mais calma.
A expectativa de uma guerra em maior escala na região, nomeadamente um ataque directo ao Irão por parte das forças armadas israelitas com o apoio dos norte-americanos, pode pôr em causa a produção iraniana (cerca de 4 milhões barris/dia), embora os analistas reforçem que, neste cenário extremo, a Arábia Saudita teria capacidade de repôr a produção, "segurando" o preço do barril de petróleo em níveis que não ultrapassariam os 80 USD/barril. Embora seja preciso não esquecer que uma operação de Israel no Irão poderia pôr em causa também a produção no Iraque, que tem hoje uma produção também à volta dos 4 milhões barris/dia, uma vez que este país está no meio daquele que seria o trajecto dos mísseis e das forças áreas israelitas em direcção ao Irão.
de quase 8% da produção mundial que se concentra nestes dois países e que, posta em causa, poderia criar uma onda especulativa do preço do crude com consequências maiores. Apesar do cenário a longo prazo continuar a ser de redução dos preços, estes conflitos, aquilo que geram em termos de expectativas, faz o preço de barril disparar. Até agora, não é a diminuição da oferta que alimenta a tendência de subida, pelo contrário, esta continua a aumentar apesar de haver duas guerras abertas que envolvem produtores. É a redução da procura, explicada pelo arrefecimento das principais economias e por grandes compradores estarem a abastecerem-se em parte fora dos circuitos formais, que levou à queda do preço (brent) no últimos ano, caiu mais de 20 USD (ver gráfico).
O mercado também parece mais maduro. Se reagiu de forma nervosa quando começou a guerra da Ucrânia, o preço do barril ultrapassou os 100 USD, e apesar das oscilações para cima e para baixo que os preços têm tido, os picos, baixos ou altos, têm dimensões mais reduzidas. Para se ter uma ideia do impacto destas oscilações na economia do País, 10 USD no preço do Brent, sabendo que o Estado fica com cerca de 35% das receitas, significam mais ou menos 3,5 milhões USD/dia para os cofres do Estado.
A grande questão que se levanta sobre o escalar do conflito entre Israel e o Irão tem muito a ver com a possibilidade de os iranianos, se virem a sua situação mais complicada, poderem fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa 1/3 da produção mundial de petróleo. Neste caso, os especialistas são unânimes que o preço do barril poderia ultrapassar os 100 USD/barril. Parece claro que a forma tímida como o Irão responde directamente a Israel, apesar de tudo o ataque foi comunicado com antecedência, e a hesitação de Israel em responder violentamente, têm também motivações económicas.
Para baixo e para cima
Em dois anos, o preço do barril Brent oscilou entre 95 e 70 USD, em carrossel, sendo que apenas nos últimos 13 meses perdeu 25 USD por barril até ao último dia de Setembro, 24 horas antes do ataque do Irão. O aumento da oferta, como explicado acima, tem sido um dos factores que influencia esta trajectória. Não apenas o que se produz actualmente, mas pelos anúncios de novas produções por diversos países e pelas intenções de investimento das principais multinacionais. Se houve um momento em muitos especialistas defendiam que as energias renováveis podiam substituir em algumas áreas os hidrocarbonetos, de forma a fazer baixar o seu consumo, hoje sabe-se que não é bem assim. O consumo de petróleo voltou a ter um "valor recorde" no final de 2023.
A questão das reservas também influencia muito a procura. Nos últimos dois anos, e também devido ao clima de instabilidade geopolítica, as maiores economias compraram acima das necessidades e de acordo com as suas disponibilidades de armazenamento, para evitar os contrangimentos porque passaram nas primeiras semanas da guerra da Ucrânia. Estes países servem de contrabalanço a uma possível subida dos preços do barril, uma vez que podem utilizar estas reservas e deixar de comprar nos mercados internacionais por um período curto de tempo, "empurrando" outra vez os preços para baixo.
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