Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Empresas & Mercados

Sonangol regressa em força ao sector não-petrolífero

INVESTIMENTO EM NEGÓCIOS SECUNDÁRIOS TEM SIDO PENOSO PARA A EMPRESA PÚBLICA

Petrolífera nacional volta a alargar o seu raio de acção a outros sectores quando o processo de reestruturação da empresa, ainda por concluir, foi baseado precisamente na necessidade de abandonar aquelas práticas.

O anúncio passou quase despercebido, mas na segunda-feira, 12 de Agosto, o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET) anunciou, com alguma pompa, que a Sonangol vai integrar a nova estrutura societária da empresa de origem turca Tosyali Iron & Steel Angola S. A., com o objectivo de reactivar a produção de ferro na mina de Kassinga, na província da Huíla. Os termos da joint-venture, que segue os passos anteriores ao nível dos fertilizantes e do quartzo, não foram explicados, mas o histórico recente dos investimentos fora do petróleo liderados pela petrolífera é penoso para a empresa e para o País.

A ideia de falhanço quase total desta estratégia, que supostamente iria colocar a Sonangol ao serviço da diversificação da economia mas que a tornou numa espécie de fundo soberano, deu origem à decisão de retirar a empresa dos negócios secundários, incluindo indústria, banca e habitação, entre outros. Esta iniciativa acabou por servir de base para o Programa de Privatizações (PROPRIV), lançado em 2019, onde a maioria dos activos alienados saiu do grupo Sonangol.

Cinco anos depois do início do PROPRIV, os factos mostram uma reversão deste processo, que também foi assumido como uma forma de salvar a Sonangol e de retirar do seu balanço financeiro as participações em sociedades falidas ou em investimentos sem retorno que ameaçavam a viabilidade da maior empresa do País.

A nova estratégia passava por focar todas as atenções na sua especialidade, a pesquisa e a produção de petróleo, e foi também no seguimento desta decisão que lhe foi retirada a função de concessionária, que deu origem à criação da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG).

"Algumas decisões indicam que se abandonou a intenção de afastar a Sonangol dos negócios fora do petróleo, que era uma ideia correcta", sublinha José Oliveira, académico e especialista no sector petrolífero.

"O anúncio desta semana sobre a entrada da Sonangol na exploração de ferro não se compreende. Antes disso, já tinha sido divulgada outra intenção de investimento no quartzo, o que ainda se aceitava por estar relacionado com a transição energética. Mas já não entendo a entrada nos fertilizantes, por exemplo. São práticas que recentemente deram mau resultado e que atrasam e dificultam a recuperação da Sonangol", considera Oliveira.

O presidente da Tosyali Iron & Steel Angola, Fuat Tosyali, considerou que a parceria é uma "demonstração real do empenho e compromisso do Estado angolano na concretização do projecto".

"Com a entrada da Sonangol na nova estrutura societária, o projecto de ferro e aço de Kassinga vai ganhar uma nova dinâmica", garantiu Fuat Tosyali, que parece colocar a Sonangol como uma espécie de garantia pública para o seu investimento.

Em Junho, antes da divulgação do acordo entre a Sonangol e Fuat Tosyali com o patrocínio do governo via MIREMPET, o mesmo ministério anunciou "a elaboração de um projecto de elevado espectro com vista à exploração e produção de quartzo", que deverá constar da carteira de investimentos da Sonangol no quadro do programa de reestruturação da empresa. Não foram divulgados mais pormenores.

Outro exemplo do regresso da Sonangol ao sector não-petrolífero aconteceu há cerca de dois anos, em Junho de 2022, quando foi assinado um termo de financiamento entre o Afreximbank e a Amufert, empresa do grupo empresarial Opaia e proprietária do futuro empreendimento, localizado no Soyo (província do Zaire), que visa promover a produção de fertilizantes em Angola.

"Para entusiasmar e dar confiança a este projecto motivámos a Sonangol e o grupo Opaia a unirem-se na Amufert. Foi aprovado o contrato do fornecimento de gás a um preço próprio para este projecto", disse na altura Diamantino Azevedo, que terá aceite garantir 20% do financiamento necessário para concretizar o empreendimento avaliado em 2.000 milhões USD. O arranque da produção está previsto para 2027.

Estas iniciativas retiram capacidade à petrolífera e não resolvem os seus principais problemas. Pelo contrário. "A dívida do estado à Sonangol continua a aumentar e isto tem causado danos no dia-a-dia e na sua capacidade de investimento", defende José Oliveira.

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo