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Grande Entrevista

"Angola não pode continuar refém das multinacionais que operam nos petróleos"

PEDRO GODINHO PRESIDENTE DA AMCHAM

O presidente da Câmara de Comércio Americana em Angola defende uma restruturação do modelo de adesão de Angola a organizações internacionais e aponta o dedo à lei do conteúdo local, por considerar que prejudica as empresas angolanas do sector petrolífero. O ambiente de negócios no país tem vindo a degradar-se

A Lei do Conteúdo Local começou a vigorar no passado dando continuidade à política de angolanização do sector petrolífero nacional. Esta lei satisfaz as empresas angolanas?

Com alguma preocupação e tristeza verifico que houve um retrocesso muito grande. A actividade desenvolvida pela Sonangol, na altura como concessionária, foi muito mais incisiva e ajudou as empresas angolanas a consolidarem a sua presença no sector do óleo e gás. Foram estabelecidas parcerias com multinacionais que permitiam adquirir conhecimento, transferência de tecnologia e oportunidades de negócio. Isso no passado foi possível e com algum mérito da Sonangol, enquanto concessionária. Mas houve uma deturpação deste princípio. Decisores que estiveram à frente de muitas instituições nacionais que representavam o Estado forçavam para que estas parcerias fossem com empresas que eles criaram. Aí começaram as deturpações.

O que é que mudou?

Agora já não é obrigatório as multinacionais terem parceiros angolanos e isso está a fazer com que muitas empresas angolanas morram. Porque muitas têm falta de financiamento, conhecimento, tecnologia, para competir com as multinacionais. E isso está a fazer com que os contratos fiquem de novo quase todos com as multinacionais. E, pior que isso, aquelas parcerias que já existiam estão a acabar ou em risco, porque as multinacionais questionam o porque de continuarem ligadas a empresas angolanas quando a lei não exige. Os parceiros estrangeiros estão a criar conflitos nas joint venture para que o nacional saia, isto está a acontecer. Já perdemos três sociedades assim e estas empresas estrangeiras continuam aqui a operar sozinhas. Por isso é que digo que há um grande retrocesso.

Alertaram a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) para esta situação?

Se a nossa liderança não estiver atenta, acho que o sector do óleo e gás poderá chegar a um estado desestruturado e coxo. Formar um quadro leva décadas e há aqui um aspecto fundamental, que não está a ser tido em atenção. Muitos quadros acima de 60 anos, com experiência comprovada, conhecedores do sector, estão a ser mandados para a reforma sem nenhuma vinculação. Estão a ser colocados jovens com 30-40 anos de idade.

A ideia não é apostar também na juventude?

Sim. Mas coloca o mais velho como assessor ao invés de ser descartado. Vai para a reforma e fica assessor de uma determinada área que ele bem conhece. Quando se colocar um jovem cheio de energia, conhecimento, formado nas melhores universidades do mundo, mas sem experiência de vida, junta- se a este a maturidade e conhecimento de um mais velho. E esta partilha vai impedir que os mais novos cometam erros. Mas, infelizmente, isso não está a acontecer.

(Leia o artigo integral na edição 656 do Expansão, de sexta-feira, dia 7 de Janeiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)