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Grande Entrevista

"Muitas vezes não se faz um seguro apenas por desconhecimento"

ANTÓNIO HENRIQUES DA SILVA | CEO DA ALIANÇA SEGUROS

O crescimento do mercado, a expansão dos seguros obrigatórios, a necessidade do aumento da taxa de penetração, os microseguros, o seguro agrícola e a criação da resseguradora nacional são alguns dos temas fundamentais para o sector.

A venda de seguros cresceu 21,4%, para 379 mil milhões Kz, representando um crescimento real positivo tendo em conta a taxa de inflação, em 2023, de 20%. O que aconteceu de extraordinário para um crescimento acima da inflação?

As seguradoras, de um modo geral, cresceram. E nós, Aliança Seguros, também crescemos, até ligeiramente acima do que era previsto em termos de plano de negócios, e penso que quase todo o mercado acompanhou a tendência. Por detrás deste crescimento está o ajuste dos prémios de um dos produtos que mais alimenta o mercado, fora o sector da petroquímica, o seguro de saúde. Este aumento foi necessário em função dos ajustes que se registaram nos prestadores de saúde. A questão cambial também esteve a favor das seguradoras, porque muitas ou uma grande parte das seguradoras têm operações de resseguro. Associado a estas razões está também o ligeiro crescimento da taxa de sinistralidade.

Que tipo de reajuste se fez nos prémios de seguros de saúde?

A nível de seguro de saúde foi feito um aumento um pouco mais para cima, para compensar também o aumento dos preços do mercado em si. As seguradoras também têm outras responsabilidades, como o contributo para a própria ARSEG, Segurança Social, IVA e outros impostos, então temos de acompanhar efectivamente o comportamento do próprio mercado e procuramos fazer de forma a estarmos alinhados e não ficarmos curtos em termos de margens.O equilíbrio das empresas obrigou a estes aumentos.

Só foi feito um reajuste neste ramo?

Houve ramos em que estamos um pouco mais limitados para fazer reajustes. Por exemplo, o seguro obrigatório automóvel, por estar definido por lei. Não temos muita margem para mexer nesse produto. Existe uma proposta de revisão deste produto, mas, na minha opinião e não do board da Aliança, já vem tarde, embora seja uma medida muito bem-vinda que merece aplauso do sector.

Por que razão vem tarde?

Porque temos tido muitas variações, quer as variações cambiais com as da própria inflação. Temos um capital de seguro de 13 milhões de Kwanzas e os segurados pagam um prémio de 30 mil Kwanzas em média, então imagine um indivíduo com um carro de menor valor causar danos a um outro automóvel de valor muito elevado, como os Lexus, Prados, Nissans, que já têm muita tecnologia por dentro a custar à volta de 2,3 milhões Kz. Já leva boa percentagem do capital seguro e se for uma perda total o capital não vai cobrir, então se aumentar o capital de risco, o prémio também tem de ser ajustado.

O que representa esse crescimento do mercado para a economia?

Para as seguradoras é bom, para a economia do País igualmente, porque temos aqui mais impostos a serem pagos, mais contributos a serem feitos a determinados sectores, pois sabemos da função social e económica dos seguros. Apesar da taxa de penetração continuar baixa, esperemos que este crescimento traga de alguma forma confiança ao mercado, para que mais pessoas e empresas subscrevam um seguro das mais variadas naturezas.

Na verdade, a taxa de penetração está estagnada nos 0,60% há três anos. Como resolvemos este problema?

Acho que nós deveríamos considerar ou equacionar mais os seguros obrigatórios. Se nós efectivamente tivermos mais seguros obrigatórios no mercado, como o exemplo do automóvel, embora ainda não seja o que desejamos, então podemos aumentar a taxa de penetração. Outro exemplo seria a nível da construção. Normalmente as empresas de construção fazem mais pedidos de seguro de caução do que o seguro da própria obra em si. Acrescentaria o seguro da indústria, apesar de não termos um nível industrial elevado, mas o parque industrial que temos está seguro, não está? Não vejo muitos pedidos de cotação para indústria, pelo menos ao nível da Aliança. E não sendo um requisito legal pode ser que não exista.

O ramo vida, que tem estado a crescer muito e também dá um grande contributo?

Estes seguros estão hoje muito acoplados ao crédito bancário. Mas nós temos aqui uma grande oportunidade, que tem a ver com a situação que nós vivemos, com as incertezas que seria as pessoas subscreverem seguros de vida e deixarem os seus descendentes confortáveis numa situação de sinistro e até das próprias pessoas. Porque seguro de vida, além da morte, também cobre incapacidades e, então, penso que sim, serve de grande contributo. Mas ainda há um grande espaço de crescimento se tivermos em linha de conta o que acontece noutros países.

O microsseguro é uma boa estratégia para combater a baixa penetração e aumentar a inclusão.

Também concordo, porque as pessoas de baixa renda provavelmente não têm o mesmo nível financeiro de outras pessoas que têm uma estrutura financeira mais organizada. As seguradoras têm estado, no nosso caso específico, a preparar ou desenhar produtos, de apoio aos micro negócios e com seguros com prémios mais reduzidos, precisamente, para apoiar também as pessoas que, sem terem essa capacidade financeira, possam ter uma protecção, quer da vida, quer da sua propriedade ou dos seus bens.

Leia o artigo integral na edição 796 do Expansão, de sexta-feira, dia 04 de Outubro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

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