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Goldman Sachs "segura" 3.º banco que cai nos EUA, receio vira-se para crédito imobiliário

FIRST REPUBLIC COMPRADO APÓS BANCOS DEPOSITAREM 30 MIL MILHÕES USD

Crise no sector bancário nos EUA tem-se confinado a bancos regionais e não deverá desencadear efeito de contágio fora de portas, conclui analista Gabriel Kamutungue. Para já, não há razões para receios na banca angolana.

A dor dos bancos nos EUA "está apenas a começar", sinalizou quarta-feira o antigo presidente do Banco de Reserva Federal de Dallas, Robert Kaplan, um dia antes do anúncio de nova subida na taxa de juro da Fed, para o intervalo de 5,00% a 5,25%, a mais elevada desde 2006, e um dia depois de a Goldman Sachs comprar o First Republic para salvar o terceiro banco que entrou em colapso no país desde Março.

Mas o centro das preocupações sofreu um deslocamento. Já não é só a excessiva exposição dos bancos aos títulos do tesouro dos EUA que mantém a respiração suspensa, mas o crédito imobiliário comercial.

Os bancos regionais estão particularmente expostos ao sector imobiliário comercial, por causa das subidas das taxas de juro e ao receio de que a prevalência do trabalho a partir de casa reduza a procura de escritórios, alertaram analistas citados pela Bloomberg e pela Reuters, a um mês de os EUA entrarem em default se a Câmara dos Representantes não autorizar o aumento do tecto da dívida, como o Expansão noticiou há duas semanas.

Os receios sobre a saúde do sistema financeiro reacenderam um mês e meio depois de o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank terem sido adquiridos pela Federal Deposit Insurance Corporation, após sofrerem uma corrida aos depósitos e grandes perdas de papel em activos a longo prazo.

Esta segunda-feira, foi salvo o First Republic, banco da Califórnia com "uma clientela privilegiada, depósitos significativos sem seguro e muitos empréstimos e títulos que perderam valor, dada a rápida subida das taxas de juro no ano passado", como descreveu Megan Greene, no Financial Times. A economista-chefe da Kroll Inc, que se juntará ao Comité de Política Monetária do Banco da Inglaterra, em Julho, como membro externo, considera que "uma supervisão mais rigorosa poderia ter evitado que o First Republic se metesse em problemas".

"Quando o banco começou a vacilar, impor uma venda mais cedo teria sido mais barato, mais flexível e eficiente", explica Greene, notando que em "meados de Março, os maiores bancos dos EUA depositaram 30 mil milhões USD no First Republic para reforçar a confiança", num esforço em vão.

Investigação aos bancos

Os alarmes sobre a banca norte-americana mantêm-se ligados desde Março. Os receios são reforçados por uma investigação a mais de 4.800 bancos nos EUA, da co-autoria de Amit Seru, professor de Finanças na Stanford Graduate School of Business. O estudo, destinado a avaliar a exposição dos bancos aos riscos que levaram à falência do SVB, revelou a existência de 190 bancos em risco. Conclui ainda que "o valor de mercado dos activos do sistema bancário dos EUA é 2 biliões USD inferior ao sugerido pelo valor contabilístico dos seus activos, tendo em conta as carteiras de empréstimos mantidas até ao vencimento".

Embora os receios se justifiquem e mesmo que mais bancos venham a falir, Gabriel Kamutungue considera que não estamos perante uma ameaça de contágio ao sistema financeiro internacional, porque os bancos em situação de fragilidade não representam risco sistémico.

"Não se pode afirmar que não haverá impacto, mas directa e no curto prazo definitivamente não, ou pelo menos enquanto não se confirmarem grandes perdas de bancos mais sistémicos nestes mercados", afirma o analista financeiro ao Expansão. Não há, pois, razões para o mercado angolano agir ou tomar precauções. Tanto mais que a crise que se verifica está relacionada com a subida das taxas de juro da Reserva Federal para conter a inflação. "Já no nosso caso essas tendências têm sido opostas, mas ainda que fosse, os nossos mercados estão habituados a taxas altas, pelo que este fenómeno não traria uma corrida bancária generalizada no mercado bancário tal como está a acontecer nos USA", conclui.