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Opinião

Angola 47 anos depois, a transformação da economia continua adiada

MILAGRE OU MIRAGEM?

O problema reside também no facto de os proponentes do PRODESI identificarem como produtos prioritários para a exportação banana, café, rochas ornamentais, madeira, o que é bom, mas que não permite Angola deixar de exportar bens primários. A aposta precisa ser num rápido processo de industrialização

No final do período colonial a economia angolana crescia a uma taxa média de 7% ao ano (se tivermos em conta a taxa de crescimento no período de 1963 a 1973). Nesta altura, o petróleo bruto já era o principal produto de exportação, depois de ter ultrapassado o café, que foi o principal produto de exportação na Angola colonial de 1946 a 1972. Todavia, Angola também exportava outros produtos, tais como diamante, algodão, ferro, sisal e açúcar.

Passados 20 anos desde que o País alcançou a paz, apesar do discurso político teimar em dizer o contrário, os números oficiais referentes à participação (%) dos vários sectores no PIB nominal mostram que as reformas estruturais levadas avante pelo Executivo, aqui falamos particularmente daquelas reformas implementadas no âmbito do acordo de financiamento ampliado entre o Executivo angolano e FMI, não levaram à transformação da economia.

Para nós esta constatação não constitui surpresa, afinal neste espaço ilustramos reiteradas vezes que havia uma certa confusão entre reforma estrutural, que mais não é do que liberalizar a economia (coisa que o Executivo fez) e transformação estrutural da economia, i.e., fazer com que Angola deixe de produzir e (consequentemente) exportar matérias-primas. Nas nossas análises, olhando para aquela que é a história do processo de desenvolvimento dos, agora, chamados países ricos, temos ilustrado que a transformação dessas economias só foi possível graças a um aumento de produtividade no sector agrícola e um rápido processo de industrialização, duas coisas que Angola ainda não foi capaz de fazer desde 1975!

Olhando, para a participação (%) dos vários sectores na composição do PIB nominal, segundos os dados INE, notamos que desde 2017, altura em que a actual administração entrou em funções, houve um aumento da participação da agricultura na composição do PIB, ao passo que a indústria transformadora, devido à queda verificada entre 2017 e 2019, acabou por terminar o período (de 2017 a 2021) com uma contribuição ligeiramente abaixo da verifica no início do mandato.

Se tivermos em atenção que a evidência empírica mostra que a taxa de crescimento da produção na indústria transformadora está intimamente ligada à taxa de crescimento económico (Kaldor, 1989), compreende-se por que razão no período em análise a economia angolana não teve a tão desejada transformação, apesar das reformas. Não tendo o Executivo conseguido dinamizar estes dois importantes sectores da economia é notável que Angola continua fortemente dependente do sector petrolífero.

No início do período este sector tinha uma contribuição de 20,9% chegando aos 32,7% em 2021. O comércio regista igualmente um crescimento assinalável já que passou de 17,9% em 2017 para 21,1% em 2021. Na ausência de dinamismo na indústria transformadora e um fraco crescimento da agricultura, estes dados ilustram bem o peso que as importações têm em Angola bem como estas importações são sustentadas pelo petróleo. Ainda assim é possível ver que o peso da administração pública (defesa e segurança social obrigatória) neste período reduziu significativamente (saindo de 9% em 2017 para 4,1% em 2021).

(Leia o artigo integral na edição 702 do Expansão, de sexta-feira, dia 21 de Novembro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)