Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Opinião

A nova divisão política e administrativa de Angola. O que não se diz em debates!

CONVIDADO

A grandiosidade da aproximação dos serviços a população, a redução das assimetrias regionais, podem ser frustrados pelo momento delicado que o país se encontra. Boas políticas tomadas no momento errado, transformam-se em más políticas. Temos sérios problemas de somar e subtrair, trazer mais problemas de divisão vai afastar-nos da Angola que tanto almejamos.

No dia 15 de Agosto do ano corrente, há quem saiu de casa vivendo em Luanda e quando regressou já não vivia na capital, foi transformado num residente de uma província que não consta no actual mapa de Angola, como o caso de quem vive na centralidade do Sequele. Este facto deveu-se à nova divisão política e administrativa de Angola, que contemplou as províncias de Moxico, Cuando Cubango e Luanda (por arrasto).

Conforme sustentam vários experts ligados ao ordenamento do território, a divisão política e administrativa de Angola vai sempre ser accionada quando necessário, porque elas não são fixas, elas são maleáveis segundo os objectivos geopolíticos, geoeconómicos, geoestratégicos. Por exemplo, na manhã de quarta-feira de 26 de Junho de 2011, foi definida uma divisão política e administrativa de Angola que colocava em pauta Luanda e Bengo (1).

Sob o pretexto de satisfazer as exigências do crescimento demográfico, das infraestruturas, a expansão do agromercados populacionais, estabelecer limites demográficos territoriais, reduzir as assimetrias regionais, e o principal aproximar os serviços essenciais a população, em 2021 foi proposta a divisão política e administrativa de Angola, envolvendo as províncias do Uíge, Malanje, Lunda Norte, Moxico e Cuando Cubango, a divisão prevista era 23 províncias e 581 municípios.

No conselho de governação local, realizado no Uíge, definiu-se que deixariam de ser 5 províncias a serem divididas e passariam a ser apenas 2 (Moxico e Cuando Cubando). A esta última proposta, foi adicionada a Província de Luanda (com apenas 2 meses, até a sua aprovação).

Antes de mais, é necessário sublinhar que pelas razões apontadas acima, somos a favor de medidas que aproximem os serviços a população. E como base de comparação, em termos populacionais Luanda perfaz, mais ou menos 9 milhões de habitantes, e em termos territoriais 18 826 Km, já a população do Moxico é de mais ou menos 935 mil, e em termos territoriais 223 023 Km, dito de outra forma, Luanda sai 11,84 vezes no Moxico, mais em termos populacionais é 9,71 vezes mais populosa do que o Moxico. Assim torna-se irrefutável a necessidade de aproximar os serviços a população(2).

Todavia, a implementação de uma nova província requer uma análise muito cuidadosa de aspectos que podem facilmente ser ignorados, mas as suas implicações comprometem o sucesso da sua execução.

A lei da nova divisão política e administrativa de Angola define a criação de 21 províncias, contra as 18 existentes, e 326 municípios, contra os 164 existentes. Esta nova configuração significa dentre várias outras alterações a inserção de 162 novos administradores municipais 324 administradores adjuntos, 3 novos governadores e assim por diante, esta estrutura do pessoal está associado ao custo que em Contabilidade denomina-se, custo com pessoal.

Para nos auxiliar a ter uma mínima noção desta estrutura, fizemos algumas referências ao leque legislativo nacional. A resolução 6/19 de 19 de fevereiro, que define o peso de um deputado na folha de salário nacional, e principalmente os decretos presidenciais 95 a 97 /17 de 8 de Junho que definem o salário base dos órgãos afectos a distintas áreas da função pública.

Conforme mostra o quadro é evidente que essa alteração de 98,78%(3) da estrutura do pessoal, incluem um custo na mesma proporção. O que nos preocupa, devido à situação vulnerável em termos económicos e financeiros que Angola se encontra. Estamos com dificuldades de honrar os nossos compromissos internos(4) e externos, a dívida pública tem corroído mais de 90% das receitas arrecadadas e para piorar a situação a nossa reputação com o exterior tende a deteriorar fruto da fraca capacidade de aquisição de financiamento a nível externo. Segundo o relatório de execução do OGE 2024 do I semestre dos 10 Bilhões de Kwanzas previstos em financiamentos estão divididos em quase 6,2 biliões Kz em financiamentos externos e 3,8 biliões em internos , dos quais apenas foram angariados 30% e 37% respectivamente, este facto, obriga a estratégias que visam maximizar as receitas ou, por outro lado, a minimização dos custos.

A grandiosidade da aproximação dos serviços a população, a redução das assimetrias regionais, podem ser frustrados pelo momento delicado que o país se encontra. Boas políticas tomadas no momento errado, transformam-se em más políticas. Temos sérios problemas de somar e subtrair, trazer mais problemas de divisão vai afastar-nos da Angola que tanto almejamos.

Leia o artigo integral na edição 793 do Expansão, de sexta-feira, dia 13 de Setembro de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo