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Opinião

Confiança (outra vez)

Editorial

Esta coisa de olharmos para o nosso futuro com optimismo, com vontade de mudar e desenvolver novos empreendimentos não é negativo, mas assumir isso como planos de governação apesar de todos sabermos que não vai acontecer, é que não me parece bem. Porque fica sempre a ideia que projectámos mal ou não trabalhámos bem. E os nossos parceiros internacionais também lêem esses documentos, fazem as análises e as desconfianças aumentam.

O Expansão traz esta semana uma reportagem onde mostra que o investimento directo estrangeiro no País, fora do sector petrolífero, foi 3,1 de mil milhões USD entre 2014 e 2022, e que o PDN prevê que entre 2023 e 2027 este seja de 48,8 mil milhões USD, quase 16 vezes mais em apenas 5 anos. E trago estes dados para que todos possam reflectir sob a forma com estão a ser construídos estes grandes planos, que metas e objectivos nos propomos e, mais importante, que impacto podem ter na decisão de investimento dessas tais entidades estrangeiras quando existem tamanhas disparidades entre a realidade, o possível e o que pensamos que podemos alcançar.

Junto aqui os dados que foram apresentados no lançamento do Planagrão ainda em 2022, que previa dobrar a produção de grãos no País, "e um investimento anual de 670 milhões USD/ano para a produção e mais 471 milhões USD/ano para a construção e reabilitação de infraestruturas de apoio ao sector produtivo e social". Lembro-me na altura que falei com o ministro da tutela sobre o suporte para definição das metas e para a escolha das províncias envolvidas e fiquei com a certeza que não havia estudos. Começaram a ser feitos seis meses depois. E, já agora, passou mais de um ano...

Podia juntar inúmeros mega-planos apresentados ao longo dos anos, como o metro de Luanda, que já teve várias versões e primeira data de inauguração no início de 2019, ou o PROPRIV, que inicialmente contemplava um leque de 195 empresas a serem privatizadas (32 empresas públicas de referência), no período de 2019 a 2022, sendo que 20 delas seriam privatizadas através da BODIVA.

Isto tudo para me questionar "onde é que está o problema?". São os consultores, a quem pagamos a peso de ouro que não acertam no tiro, são os nossos governantes que estão carregados de boas intenções e não conseguem ver a realidade como ela é, ou é uma estratégia para ir "empurrando com a barriga" a resolução das dificuldades que todos sentimos com sonhos bonitos e "cenouras" sumarentas.

Esta coisa de olharmos para o nosso futuro com optimismo, com vontade de mudar e desenvolver novos empreendimentos não é negativo, mas assumir isso como planos de governação apesar de todos sabermos que não vai acontecer, é que não me parece bem. Porque fica sempre a ideia que projectámos mal ou não trabalhámos bem. E os nossos parceiros internacionais também lêem esses documentos, fazem as análises e as desconfianças aumentam. Como escrevi na semana passada, o maior problema para o desenvolvimento económico é a perda de confiança dos agentes económicos nacionais e estrangeiros no País.

A confiança ganha-se com verdade, conhecimento e segurança. E com planos que tenham, no mínimo, uma possibilidade de realização a rondar os 80%. Mas isso nós ainda não conseguimos atingir na execução do OGE, ano após ano.

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