Falar verdade
Tal como acontece nas nossas casas, quando se gasta mais do que se recebe, o caminho é cortar nos gastos que não são importantes. Todos sabemos disto, inclusive quem nos governa, mas a verdade é que, apesar de a discussão ter muitos anos, os passos concretos são muito poucos.
Sempre defendemos que as contas do País deviam ser claras, que publicamente os responsáveis deviam informar os angolanos das condições difíceis por que passamos, em vez de construírem cenários cor-de-rosa nas televisões públicas, com comentadores que "vendem" sonhos apenas, sem qualquer fundamento na realidade. Aliás, a ministra Vera Daves ainda o fez, em abono da verdade sempre foi a única que tentou trazer alguma verdade sobre as condições financeiras do País, sem grandes rodeios, mas por isso sem grande impacto na comunicação social pública, que sempre "escondeu" esses seus pronunciamentos.
Mas nós, os meios privados, não podemos deixar passar em claro os poucos que ainda se preocupam com o País. Porque dizer a verdade é preocupar-se com Angola e com todos nós. E alimentar de forma irracional uma realidade virtual é exactamente o contrário. É contribuir para piorar a situação, para que não se estudem e implantem as soluções, é fazer mal ao País. É empurrar com a barriga e um dia a situação pode rebentar e depois a culpa não é de ninguém. Porque estes arautos do politicamente correcto serão, certamente, os primeiros a bazar.
Neste sentido, o Expansão avança esta semana, com base em dados oficiais disponíveis e dispersos em várias instituições, aquilo que é o desafio das contas do País até ao final do ano. É claro que temos de pagar as obrigações da dívida contraída nos últimos 20 anos, embora pareça que existe um espécie de "pacto de regime" para não ter de se explicar para onde foi efectivamente este dinheiro, que tem de se pagar os salários dos funcionários públicos e as despesas para manter a máquina do Estado a funcionar. Mas também é necessário cortar nas despesas e nas benesses que não servem para nada, porque o dinheiro não chega para tudo.
Tal como acontece nas nossas casas, quando se gasta mais do que se recebe, o caminho é cortar nos gastos que não são importantes. Todos sabemos disto, inclusive quem nos governa, mas a verdade é que, apesar de a discussão ter muitos anos, os passos concretos são muito poucos. Os equilíbrios que são necessários manter, o facto de ninguém estar disposto a perder muitos dos luxos e dos hábitos que adquiriu por via do Estado e também alguma falta de coragem faz com que continuemos com uma Administração Pública demasiado gorda. Com custos enormes para o desenvolvimento económico e social do País, uns, poucos, a ficarem cada vez mais ricos e outros, muitos e muitos, a ficarem mais pobres.
Mas não tenham ilusões, esta situação não vai durar para sempre. Se não forem dados passos concretos para melhorar a condição da maioria, se não houver uma maior dispersão da riqueza gerada, tal com aconteceu noutras paragens e noutros tempos, a situação rebenta por dentro. Com custos enormes para todos...