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Opinião

Meritocracia

Editorial

O que é verdadeiramente preocupante neste momento é que muitos destes jovens, formados interna ou externamente, que tinham capacidades profissionais e vontade para ajudar nas mais diversas funções, estão a desistir. Não tendo salários compatíveis com a sua actividade, não tendo condições para ter uma vida segura, educação para os seus filhos e saúde acessível para a família, preferem sair para a Europa, para o Brasil, e até mesmo para o Canadá, para fazer qualquer coisa. Viver com mais tranquilidade, apenas.

Muito se tem falado das condições necessárias para o desenvolvimento económico, pondo sempre na frente das prioridades a alteração do ambiente de negócios, uma legislação adequada, a retirada de interferência excessiva do Estado na actividade empresarial, uma política fiscal adequada às realidades do País e daquilo que precisa neste momento. Mas hoje queria destacar a importância das pessoas, dos angolanos, da capacidade de trabalho dos nossos cidadãos, da sua contribuição para este objectivo.

Uma das primeiras condicionantes é a valorização dos trabalhadores angolanos, pois em muitas organizações, onde se incluem as instituições públicas, existe uma valorização muito maior dos consultores estrangeiros, que ganham cinco a 10 vezes mais e acabam por limitar o crescimento dos colaboradores nacionais. Esta não é uma questão linear, porque em abono da verdade, muitos dos nossos trabalhadores têm níveis de assiduidade, de foco e de empenho baixos, o que, de acordo com muitos gestores, obriga a que se façam estas contratações lá fora. Se por um lado é um dado indesmentível, por outro, também é verdade que ninguém sabe bem qual seria a realidade se a maioria dos angolanos tivesse ordenados mais altos e lhes permitissem ter uma vida mais descansada.

A questão das valências profissionais também é muitas vezes discutida, uma vez que se argumenta que não há "experti se" no País para determinadas funções, mas também é verdade que Angola gastou centenas de milhões de dólares em formações no estrangeiro para os seus cidadãos, sendo que muitos depois chegam ao País e não têm colocação profissional nem condições para ter uma vida tranquila. Obviamente que isto não se aplica aos que têm "mais-valias" familiares ou partidárias, o padrinho na cozinha como diz o povo, mas a uma grande faixa de jovens que acaba por se desiludir com o seu País.

Mas o que é verdadeiramente preocupante neste momento é que muitos destes jovens, formados interna ou externamente, que tinham capacidades profissionais e vontade para ajudar nas mais diversas funções, estão a desistir. Não tendo salários compatíveis com a sua actividade, não tendo condições para ter uma vida segura, educação para os seus filhos e saúde acessível para a família, preferem sair para a Europa, para o Brasil, e até mesmo para o Canadá, para fazer qualquer coisa. Viver com mais tranquilidade, apenas.

Quando não se usa a meritocracia na hierquização das instituições e das empresas, os menos capazes ficam a desenvolver os seus esquemas para ter uma vida melhor e os melhores, os mais capazes, os mais focados e ambiciosos, acabam por se cansar e ir embora. E este, sim, é um grande obstáculo para o desenvolvimento económico do País. E parece que quem ninguém quer ver...

Edição 794 do Expansão, de sexta-feira, dia 20 de Setembro de 2024

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