Momento difícil
Numa primeira abordagem , penso que é positivo que o Presidente tenha pedido para ouvir os responsáveis dos bancos pessoalmente, olhos nos olhos, sem a informação filtrada. Mas obviamente que também passa uma mensagem que fragiliza a sua equipa, nomeadamente o ministro José Massano e o governador Tiago Dias.
A convocatória, de um dia para o outro, dos responsáveis dos principais bancos comerciais pelo Presidente para falar de taxas de juro e de financiamentos à economia, confirma que o País passa por um momento complicado, por um lado, mas que agora o Estado está a olhar para a banca comercial na esperança que traga uma solução que a equipa governativa não consegue encontrar, por outro. A este propósito, diga-se que para quem está mais atento, que os discursos públicos do ministro de Estado para a Coordenação Económica, da ministra das Finanças e do governador do BNA, não são os mesmos face às dificuldades que passamos. Sem querer fazer disto um caso, parece obviamente que não existe coordenação entre eles, que não pensam o mesmo, e sobre factos iguais têm abordagens diferentes. Isso também não gera muita confiança a quem está de fora.
Possivelmente não teremos passado na última década um período tão difícil como este, em que a falta de dinheiro tanto se nota, até porque grande parte dos gestores se fez em tempos em que não se faziam contas, pediam-se autorizações. Obviamente que seria muito injusto culpar apenas este Governo por esta situação, mas é a este Executivo que se pedem soluções. Por isso, e numa primeira abordagem , penso que é positivo que o Presidente tenha pedido para ouvir os responsáveis dos bancos pessoalmente, olhos nos olhos, sem a informação filtrada. Mas obviamente que também passa uma mensagem que fragiliza a sua equipa, nomeadamente o ministro José Massano e o governador Tiago Dias.
Aliás estes dois últimos têm alimentado o discurso cor de rosa do "está tudo bem", "estamos a crescer" ou "cumprimos os objectivos" que a comunicação social pública tanto gosta, e que depois transforma na realidade virtual que alimenta a análise dos especialistas contratados, enchendo páginas ou tempos de antena na televisão e na rádio. Como já o escrevi muitas vezes, isso faz muito mal ao País, adia as reformas que é necessário fazer e afasta as pessoas da contribuição para a solução. Ao que sabemos, a reunião dos bancos com o presidente foi precisamente ao contrário. Do género "vamos lá falar de coisas sérias e verdadeiras", "o problema existe, como é que vamos resolver. Que soluções têm?".
Isto não pode ser confundido com a "culpa é dos bancos e agora vocês resolvam", que alguns arautos do regime vão tentando insinuar nas redes sociais. Todos temos de contribuir, apesar de muitos se sentirem empurrados para a berma da estrada pelos tais arautos. O momento é de unir esforços. Vamos lá todos ajudar a nossa Angola a crescer, mesmo que sejamos afastados pelos os do costume. Por nós, Expansão, vamos continuar a trazer a nossa visão dos problemas, por muito desagradável que possa parecer a quem está sentado nos ar condicionados do centro de Luanda, e a apresentar aquilo que acreditamos ser uma boa solução para cada um deles.