"A nossa televisão tem menos credibilidade do que as redes sociais"
Nuno Baio fala sobre o mundo das redes sociais e as suas oportunidades, como um campo aberto na criação de novas formas de negócios. Tal como é na comunicação tradicional, para Baio o maior activo ainda é a credibilidade. "Se quisesse já podia viver só das redes sociais", assegura.
Vamos começar por definições. No negócio digital temos os influencers e os empreendedores digitais. Como se define?
Defino-me como empreendedor digital mesmo. Essa influência, na verdade, é apenas uma consequência daquilo que nós partilhamos. Sou empreendedor e partilho conteúdo de forma geral, mais virados para a gestão financeira e empreendedorismo. Ou seja, aquilo que faço acaba por se tornar numa influência, mesmo sem querer, torna-se numa influência, pois passo a minha visão e contribuição para o mundo e sociedade. Isso acaba por ser traduzido numa influência porque muitas pessoas revêem-se naquilo que estou a dizer.
Há algumas reticências sobre os influencers. Tem a mesma percepção?
Como em qualquer outra profissão, há pessoas que gostam mais e há quem goste menos. Há alguns que simplesmente não vão com a tua cara e ponto final. Outros que chegam a amar-te. Quase um amor à primeira vista. As pessoas olham com alguma desconfiança porque a maior parte dos influencers estão ali para vender alguma coisa, porém, quando olham para o conteúdo nem mesmo o próprio influencer acredita no que está a dizer. Acho que a desconfiança é muito a partir daí, há pessoas que vendem coisas em que não acreditam.
Mas o que o levou a produzir conteúdos para a área financeira e económica?
O meu propósito é ajudar a educar a sociedade, porque fico um pouco indignado quando as pessoas não têm acesso ou não conhecem informações básicas sobre finanças. Se nós, que temos acesso às informações básicas, muitas vezes não sabemos bem que decisões de tomar, imagine quem não tem acesso a essa informação. Quando faço isso estou a pensar no futuro, acima de tudo no futuro da sociedade angolana.
E qual é o presente da nossa sociedade?
É difícil. É um presente que demonstra uma completa falta de informação de qualidade e dificuldades seríssimas no que toca à educação e ao ensino. Temos milhões de pessoas que não foram à escola, que não têm uma profissão e não sabem o que será da sua própria vida.
Quando é que começa a criar conteúdos digitais?
No meu círculo de amigos e na minha família, sempre fui a pessoa que mais fala sobre este assunto, também pelo facto de trabalhar no sector financeiro, com alguns anos de experiência na banca e, obviamente, por ser empreendedor há mais de 12 anos. Juntando a experiência do empreendedorismo e da banca, mais o conhecimento que tenho de gestão, decidi doar esse conhecimento ao meu País, às minhas pessoas e à minha geração. Tudo começou há um ou dois anos, quando um jornalista chamado João Armando deixou a rádio. Eu ouvia todos os dias o seu programa e ficava muito feliz pela qualidade da informação que passava. Quando ele anunciou que ia deixar a rádio, achei que podia ter alguma contribuição face a este vazio que senti.
Foi uma forma de colocar uma gota num copo de água que se esvaziou?
Exactamente. Claro que ainda estamos a um milhão de quilómetros de distância daquilo que ele oferecia, mas o meu trabalho ajuda. E, hoje, mais do que nunca, temos certeza que ajuda porque nós recebemos muito feedback. O outro motivo foi o facto de encontrar na internet, que está constantemente a crescer, muita informação de baixa qualidade e deturpada intencionalmente. Só para agradar, para ser engraçado.
Então o mundo da internet, sobretudo das redes sociais, está a ser cada vez mais isso, a ser "engraçado" para ser notado?
Existem pessoas de certa forma inconsequentes. A internet é como a igreja: aceita todo o mundo. É quase impossível travar e gerir o acesso à internet. Há pessoas de todo o tipo e há também as que querem "bater" [ser conhecidas]. Mas não têm noção que uma informação falsa pode destruir vidas e a sua própria reputação.
A sede do "like" e das partilhas chega a ser redutora para os criadores de conteúdos digitais?
Sim, as pessoas não têm a paciência de analisar e discernir o que é bom e o que não é. É importante não sermos colocados no mesmo saco.
Existe uma realidade distanciada entre o mundo real e o mundo das redes sociais?
Sem dúvidas. Grande parte das pessoas procuram dar a entender que vivem algo que no fundo não é verdade. Partilham informações que nem elas mesmo acreditam. Mas há também muitas pessoas que são autênticas e selectivas. As pessoas acabam por escolher o que vale a pena.
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