Mais infra-estruturas, normalização do mercado e o combate à concorrência desleal
O investimento privado na industrialização do País é fundamental para alavancar a produção nacional. O mercado nacional oferece oportunidades de negócios, embora existam desafios que impactam negativamente na sua actividade. O Estado deve regular o mercado sem complicar a actividade das empresas.
O Expansão organizou, na semana passada, o V Fórum Indústria, por sinal o primeiro do ano. Sob o lema "A Indústria como Factor Gerador de Riqueza - Oportunidades e Desafios", o evento reuniu a "nata" da indústria transformadora, para reflectir as preocupações e anseios dos agentes que operam no mercado angolano.
Embora mais de 60% da actividade empresarial no País seja proveniente do comércio, o sector da indústria e agronegócio está a crescer. Angola oferece várias oportunidades de negócios e enormes desafios, mas é preciso desenvolver projectos que permitam o desenvolvimento de mais infra-estruturas, combater a concorrência desleal, apostar na qualificação do capital humano e garantir a estabilidade financeira das empresas. São várias as barreiras e desafios a superar para alavancar o desenvolvimento da actividade empresarial em Angola, e em particular para o desenvolvimento da indústria. Se por um lado a indústria dá sinais de crescimento, por outro, a confiança dos investidores também está a aumentar e este é um indicador que anima os empresários.
Apesar dos indicadores apontarem um ano económico positivo, a falta de infra-estruturas, as limitações financeiras, a falta de crédito bancário e a burocracia institucional são alguns desafios que os empresários apontam como constrangimentos ao desenvolvimento da actividade empresarial. O facto de o governo ter previsto um arrefecimento da economia para 2025, um crescimento de 3,6% face aos 4,4% de 2024, também causa alguma apreensão aos empresários.
Sérgio Ribeiro, director da Embalvidro, reconhece que o mercado nacional oferece inúmeras oportunidades para o desenvolvimento do sector industrial e avança que se trata de um mercado atractivo para investir, o que reflecte depois em oportunidades de emprego para a população. Garante que a empresa que dirige está virada para o mercado interno mas também para a exportação, pedindo processos mais simples para que possa manter as suas vendas fora das nossas fronteiras. Reconhece o desenvolvimento da indústria nacional e realça também o crescimento do sector primário.
Entende, por isso, que, cada empresário deve reinventar-se para aproveitar as oportunidades e criar negócio. A sua avaliação parte do ponto de vista de que é preciso investir mais em tecnologia para que a indústria cresça. Para ele ainda existe um longo caminho a percorrer, sobretudo na exportação, e revela que as taxas de exportação são muito elevadas e isto inibe as empresas de venderem lá fora, mesmo que seja só ao nível da SADC.
Sérgio Ribeiro afirma que a empresa que dirige, embora tenha apenas cinco anos de mercado, em termos de tecnologia não deve nada pelo que existe nos países do primeiro mundo e garante que tudo está a acontecer, porque em termos de capital humano está bem servido. O empresário, revelou, por outro lado, que em 2023 65% da capacidade de produção da Embalvidro, foi destinada à exportação e os mercados de eleição a nível da SADC, são a África do Sul, Namíbia e RD Congo. O mercado da SADC é muito importante mas as taxas de exportação são bastante altas e é complicado competir. Este é um grande desafio com que muitas empresas de exportação se debatem, confirmou.
"Neste momento, tendo em atenção a questão da SADC porque os mercados não estão a responder, para este ano estimamos que as exportações atinjam os 50% da produção da Embalvidro. Temos de responder ao mercado interno, mas é importante exportar", disse, lembrando que a estrutura de custos da Embalvidro é em divisas, daí a necessidade de se apostar, ou aumentar as exportações para garantir a assistência dos equipamentos e a aquisição das matérias-primas, porque é uma indústria intensiva. Entretanto, lembra que a falta de infra-estruturas é transversal a todos os sectores. "Estivemos, este ano, quase 12 meses sem água e só trabalhamos com cisternas", disse.
Por sua vez, Farid Bouhamara, CEO da National Destillers, empresa ligada à destilação de bebidas, falando dos desafios e oportunidades do sector, revela, entre as várias dificuldades, que a falta de água no PDIV é um problema crónico e sem fim à vista. Afirmou que na "sua" fábrica não há água desde 2015, um problema que se estende a todo o Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana (PDIV) há 10 anos e nada se vislumbra para alterar o quadro.
Leia o artigo integral na edição 819 do Expansão, de sexta-feira, dia 28 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)