Saltar para conteúdo da página

Logo Jornal EXPANSÃO

EXPANSÃO - Página Inicial

Economia

Produção de petróleo afunda e actividade industrial derrapa

ÍNDICE DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL NO I TRIMESTRE DE 2023

Depois de quase dois anos em terreno positivo, a actividade industrial voltou a cair no I trimestre deste ano. E o cenário deverá ser pior no II trimestre já que o recurso às importações de bens intermédios vai ser fortemente prejudicado pela forte desvalorização cambial do Kwanza face ao dólar e ao euro.

A actividade industrial em Angola caiu 6,2% no I trimestre deste ano face ao mesmo período de 2022, depois de sete trimestres consecutivos em terreno positivo, influenciada pela queda da produção de 10,3% nas indústrias extractivas, que valem 87,2% do Índice de Produção Industrial (IPI) divulgado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

De acordo com cálculos do Expansão, com base nos dados divulgados pelo INE, é a maior queda em pouco mais de quatro anos já que é preciso recuar ao IV trimestre de 2018, quando o indicador se fixou nos -7,3%, para encontrar um desempenho homólogo tão negativo do IPI.

O índice avalia a variação da produção industrial de quatro sectores, nomeadamente as indústrias extractivas, transformadoras, distribuição de electricidade e captação e distribuição de água. A queda de 6,2% do indicador, de acordo com os especialistas e industriais, é consequência da queda de produção de petróleo em alguns poços no País durante o período em análise. Só para se ter uma ideia, Angola exportou menos 6,3 milhões de barris entre o I trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado, o que acabou por se traduzir numa queda de 34% nas receitas fiscais do País, passando de quase 2,1 biliões Kz entre Janeiro e Março de 2022 para quase 1,4 biliões Kz. Contas feitas, foram menos 708,2 mil milhões Kz que entraram nos cofres do Estado.

Segundo os especialistas, a este cenário de queda da produção de petróleo acresce também a redução de investimentos na indústria, perspectivando-se, desde já, um cenário pouco animador para o sector industrial angolano já que só no II trimestre o Kwanza já depreciou 39% face ao dólar, o que tem como principais consequências prejudicar a importação de matérias-primas para a produção industrial.

"Tudo isto está ligado à dependência da produção e exportação de petróleo", disse ao Expansão o investigador da Universidade Agostinho Neto, Fernandes Wanda, que não tem dúvidas que vêm ai tempos difíceis não só para as famílias mas também para a indústria nacional, sobretudo a que depende de importações de bens de capital e de consumo intermédio.

Para contornar estas dificuldades, fontes do Expansão defendem mais incentivos às iniciativas empresariais do País. Por outro lado, prosseguiu outra fonte, o Estado não deve continuar a exercer o papel de empreendedor é preciso envolver mais a iniciativa privada.

Dentro das indústrias extractivas, cuja produção global caiu 10,3%, destaque para o afundanço de 10,6% na extracção de petróleo e para o ténue crescimento de 0,1% na extracção de diamantes nos primeiros três meses do ano. No caso do subsector dos diamantes, o crescimento deveu-se à entrada em operações de novas minas, como é o caso do Luele e o aumento dos investimentos na exploração de diamantes.

Por outro lado, a empurrar a produção industrial para cima esteve a a indústria transformadora, sendo o sector que mais cresceu no I trimestre de 2023 face ao mesmo período de 2022. Destaque vai para a subida na fabricação de pastas de papel, edição e impressão (8,0%), seguida pela indústria alimentar (7,7%), da produção nas Indústrias das bebidas e do tabaco (5,1%), na fabricação de têxteis (4,0%) e na fabricação de mobílias (3,7%). Ainda dentro da indústria transformadora, pela negativa esteve a fabricação de produtos petrolíferos, químicos e outros, já que registou um crescimento negativo de 7,6%, enquanto a fabricação de máquinas derrapou -2,9% durante o período em análise.

A queda que se registou na indústria transformadora é atribuída à falta de matérias-primas e às frequentes avarias mecânicas nos equipamentos, acrescentando também as dificuldades de acesso aos financiamentos, falta de mão-de-obra especializada nacional e da falta de electricidade e água em algumas unidades que muitas vezes são obrigadas a recorrer às fontes alternativas para o exercício da sua actividade. Por norma muito mais caras.

Em contraciclo com a realidade industrial do País apresentada pelo INE, o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes disse há duas semanas em Benguela que o País tem tudo para atrair mais investimentos para o sector e justifica: "há facilidade de acesso à terra, existe força de trabalho constituída na sua maioria por jovens." O governante, citado pelo Jornal de Angola adiantou que o País tem actualmente um "excelente" ambiente de negócios, facto que é desmentido não só pelos diversos índices e relatórios internacionais sobre o País, mas também por especialistas e economistas não só nacionais mas também estrangeiros e até embaixadores. E até pelo próprio, quando em Grande Entrevista ao Expansão, publicada no final de Fevereiro, afirmou que "Eu estaria errado se afirmasse que o ambiente de negócios em Angola é, nesta altura, o melhor para o investimento estrangeiro.

(Leia o artigo integral na edição 731 do Expansão, desta sexta-feira, dia 30 de Junho de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)

Logo Jornal EXPANSÃO Newsletter gratuita
Edição da Semana

Receba diariamente por email as principais notícias de Angola e do Mundo