A paralisia das mulheres frente a novas oportunidades
O que vemos frequentemente é que, para muitas mulheres, a dúvida sobre as suas capacidades é um bloqueio real que impede o avanço. Muitas vezes, esse medo está profundamente enraizado em normas culturais que sugerem que as mulheres precisam ser 100% competentes, enquanto os homens são mais propensos a assumir riscos.
Lúcia Cristina estava diante da proposta de sua vida: uma nova oportunidade profissional, um cargo de liderança numa das maiores empresas do país. Ela, com anos de experiência, capacitação e provas dadas, olhou para o documento diante dela e sentiu-se tomada pela dúvida. Será que estava à altura do desafio? Será que poderia liderar uma equipa tão experiente e fazer jus à posição? A sensação de insegurança e medo da incompetência paralisou-a. Ela sabia que os homens, frequentemente, abraçam esse tipo de desafio sem hesitar, mas para ela, a ideia de assumir uma nova responsabilidade sem ter a certeza de sua competência parecia insustentável.
A história de Lúcia é um reflexo de um fenómeno que atinge muitas mulheres em Angola e ao redor do mundo: o medo de não ser suficientemente competente para enfrentar um novo desafio profissional. Esse medo, que muitas vezes se manifesta como uma paralisia emocional, tem um impacto profundo na forma como as mulheres encaram novas oportunidades de carreira. Enquanto os homens, muitas vezes, abraçam esses desafios com confiança, as mulheres, em muitos casos, questionam a sua própria capacidade e sentem-se inseguras, mesmo quando estão altamente qualificadas e preparadas.
Esse fenómeno não é exclusivo de Lúcia. Ele é vivido por muitas mulheres que ocupam cargos de liderança ou têm aspirações profissionais mais altas. A insegurança e o medo de não estar à altura das expectativas do cargo ou da equipa são obstáculos comuns. O que vemos frequentemente é que, para muitas mulheres, a dúvida sobre suas capacidades é um bloqueio real que impede o avanço. Muitas vezes, esse medo está profundamente enraizado em normas culturais que sugerem que as mulheres precisam ser 100% competentes, enquanto os homens são mais propensos a assumir riscos e encarar desafios sem a mesma preocupação de terem todas as respostas de antemão.
Estudos mostram que as mulheres, muitas vezes, internalizam a ideia de que precisam provar a sua competência de maneira exaustiva, ao contrário dos homens, que tendem a lançar-se em novas responsabilidades mais facilmente, com uma confiança que nem sempre se reflecte nas suas competências reais. Esse fenómeno pode ser observado em muitos sectores, incluindo no mercado de trabalho em Angola, onde mulheres qualificadas e com experiência acumulada podem hesitar em dar o próximo passo.
Para superar o medo da incompetência, o primeiro passo é mudar a mentalidade. Adoptar uma "mentalidade de crescimento" é fundamental. Quando se entende que a competência não é algo fixo, mas algo que pode ser constantemente desenvolvido, as oportunidades tornam-se uma plataforma para o aprendizado, não para o fracasso.
A psicologia do comportamento já demonstrou que uma mentalidade fixa, em que as pessoas acreditam que as suas habilidades são inatas e não podem ser aprimoradas, leva a um medo paralisante de falhar. Em contraste, uma mentalidade de crescimento, onde se vê os erros como oportunidades para aprender e crescer, pode ser uma poderosa ferramenta para combater o medo da incompetência.
Ao começar a perceber que cada desafio traz consigo a possibilidade de aprimorar habilidades, as mulheres começam a encarar as novas oportunidades com mais coragem. Não se trata de já ser perfeita para o cargo, mas de ter a disposição de aprender, adaptar-se e crescer à medida que a jornada avança.
Aqui estão algumas abordagens práticas que podem ajudar as mulheres a superar a paralisia frente a novas oportunidades: No Mapeamento de Competências Pessoais, o primeiro passo para combater a insegurança é fazer uma análise honesta das próprias competências. Muitas mulheres não reconhecem o quanto já conquistaram. Fazer um inventário das suas habilidades, conhecimentos e experiências adquiridas ao longo da carreira pode proporcionar uma visão mais clara das forças e áreas de desenvolvimento. Ao ter uma visão realista das suas competências, as mulheres podem ver que estão mais preparadas do que imaginam para assumir novos desafios.
O coaching de carreira é uma ferramenta poderosa que pode ajudar as mulheres a superar o medo da incompetência. Ao trabalhar com um mentor ou coach, as mulheres podem obter apoio, orientação e feedback valioso sobre como lidar com os desafios e as inseguranças. Além disso, a mentoria de mulheres em posições de liderança pode fornecer um modelo inspirador, mostrando que outras passaram pelos mesmos desafios e conseguiram superá-los.
Leia o artigo integral na edição 817 do Expansão, de sexta-feira, dia 14 de Março de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
PAULA DE PAULA, Formadora | Analista comportamental e de carreira