O contributo do agronegócio para o equilíbrio global
O facto de África ter terras muito férteis, água em abundância e custo do trabalho competitivo, dá-lhe uma maior eficiência na produção e assegura a sustentabilidade dos recursos. Adicionalmente, a necessidade de assegurar num futuro próximo a segurança alimentar, a inovação tecnológica e desenvolvimento económico podem colocar Angola como um dos actores principais.
O equilíbrio mundial está a mudar a uma velocidade espantosa. A macroeconomia, os conflitos armados, a demografia e os movimentos migratórios, as ameaças tecnológicas ou a sustentabilidade do planeta são apenas alguns exemplos dos riscos globais que impactam atualmente o mundo.
Riscos estes que, apesar de não afetarem na mesma intensidade as várias geografias, são transversais a todos nós, de uma ou outra forma. Se é esperado no Sul da Ásia e na África Subsariana um elevado crescimento populacional (Angola estima atingir 65 milhões de habitantes em 2045), no Leste Asiático está previsto um maior crescimento económico, em detrimento de mercados mais maduros como na América do Norte e na Europa Ocidental. Também podemos verificar que no curto-prazo os riscos globais são mais tecnológicos, geopolíticos e ambientais, quando comparados com países menos desenvolvidos, onde as questões económicas e sociais são as mais iminentes.
Neste contexto de grande mudança e incerteza, à escala global, como pode a evolução do sector agrícola contribuir para e mitigação destes riscos? Identificamos 5 factores que podem respondem a esta questão, nomeadamente, (i) Segurança alimentar: Base para a alimentação humana e animal, garantindo a disponibilidade de alimentos essenciais para a sobrevivência e o crescimento das populações; (ii) Desenvolvimento económico: Fonte significativa de emprego e rendimento, especialmente em países em desenvolvimento, contribuindo para o PIB e fortalecendo as relações económicas internacionais; (iii) Inovação e tecnologia: O setor agrícola tem impulsionado a inovação tecnológica, como a mecanização, a biotecnologia e a agricultura de precisão, aumentando a produtividade e a eficiência; (iv) Sustentabilidade ambiental: Práticas agrícolas sustentáveis ajudam a preservar os recursos naturais, como o solo, a água e a biodiversidade, garantindo a viabilidade da produção agrícola a longo prazo; e por fim (v) Desenvolvimento rural: Promove o desenvolvimento das áreas rurais, melhorando as infraestruturas, a educação e os serviços.
E porque pode África, em particular Angola, ter um papel importante nesta mudança? A agricultura tropical é praticada em regiões quentes e húmidas próximas ao Equador (faixa compreendida entre o Trópico de Câncer e Capricórnio), que inclui grande parte de África, América do Sul e Sudeste Asiático. A agricultura nesta região tem inúmeras vantagens competitivas, como um clima favorável durante todo o ano e biodiversidade agrícola, o que permite ter duas ou três safras por ano e uma elevada qualidade dos seus produtos.
O facto de África ter terras muito férteis, água em abundância e um custo do trabalho competitivo à escala global, dá-lhe uma maior eficiência na produção e assegura a sustentabilidade dos recursos. Adicionalmente, a necessidade de assegurar num futuro próximo a segurança alimentar, a inovação tecnológica e o desenvolvimento económico podem colocar Angola como um dos actores principais desta história.
Por outro lado, não nos podemos esquecer do enorme potencial de biomassa que África possui. Dada a extensão territorial, diversidade climática e abundância de recursos naturais, possui diversas formas de "Agro- -Energia", podendo ser um valioso contributo para a transição energética global em curso, tais como: (i) Bioeletricidade (queima de biomassas); (ii) Biodiesel (produzido a partir de fontes vegetais ou animais); (iii) Biogás (gás gerado a partir da decomposição de resíduos orgânicos) ou o (iv) Etanol (produzido por meio da fermentação de açúcares, como da cana-de-açucar).
O contrassenso disto é que África, que tem o maior potencial de produção agrícola e de biomassa do mundo, está a ser alimentada e abastecida por países com muito menor potencial.
Importa ainda referir que já temos excelentes exemplos em África que demonstram como é possível crescer em produção, infraestruturas e tornar-se autossustentável: o Gana (com a integração dos cacaueiros em outras plantações e árvores melhorou biodiversidade e qualidade dos solos), o Quénia (diversificação do sector agrícola através do foco em culturas de maior valor, como café, chá e flores), ou a Nigéria (maior produtor de arroz de África, grandes fábricas de fertilizantes ou o forte investimento em logística e transporte - Porto de Águas Profundas de Lekki), são apenas alguns exemplos.
Leia o artigo integral na edição 824 do Expansão, de sexta-feira, dia 02 de Maio de 2025, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)
*MAURÍCIO BRITO, Partner da PwC