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Governo Electrónico: O futuro ainda não chegou a Angola

CAPITAL HUMANO

No final, o governo eletrónico não é apenas sobre tecnologia. É sobre eficiência, transparência e confiança. Acima de tudo, é perceber que o futuro não chega sozinho e que, ao ritmo actual, se o Estado angolano não acelerar, corre o risco de só o alcançar quando já for passado.

A tecnologia tem um efeito curioso sobre a nossa percepção do tempo. Quando olhamos para trás, parece que tudo mudou num piscar de olhos. Quando olhamos para a frente, a mudança parece demorar uma eternidade. Este paradoxo é evidente na digitalização dos serviços públicos em Angola. O caminho para um governo mais eficiente passa pela modernização administrativa e pela digitalização dos serviços, mas a sensação é de que ainda estamos à espera do futuro e ele está a apanhar boleia num candongueiro sem travões.

Uma notícia do Expansão de 24 de Janeiro indicava que, de acordo com o Índice de Desenvolvimento de Governo Eletrónico (EGDI) das Nações Unidas, Angola ocupa a 156ª posição entre 193 países e o 11.º lugar entre os 16 membros da SADC. Isso significa que, apesar de avanços como a criação do IMA e do SEPE e a digitalização de alguns serviços, o país ainda está muito atrás. Os serviços digitais do Estado, exceptuando a AGT por motivos óbvios (dinheiro move montanhas e servidores), continuam a ser vistos mais como uma promessa do que como uma realidade funcional.

A burocracia sempre foi um obstáculo à eficiência e a digitalização parecia ser a solução, mas quando a tecnologia entra em cena sem as infraestruturas adequadas, sem um ecossistema robusto e sem uma mudança de mentalidade na administração pública, o efeito pode ser o contrário: um processo digital que mantém os problemas do analógico, mas agora com bugs e necessidade de reiniciar o sistema de tempos em tempos. O caso do sistema de recrutamento do Estado é um exemplo disso: a ideia de um processo online prometia mais transparência e acessibilidade, mas na prática, falhas técnicas recorrentes fazem com que os candidatos passem mais tempo a recarregar a página do que a preparar-se para os testes.

Mas a maior contradição talvez esteja no pagamento da electricidade. Quem usa o serviço pré-pago pode pagar digitalmente. Quem ainda está no sistema pós-pago precisa deslocar-se fisicamente e, muitas vezes, pagar em dinheiro. O problema não é apenas a falta de digitalização, mas o facto de parecer que a inovação chega a conta-gotas e sempre com uma fila de espera.

A questão central não é apenas ter serviços digitais, mas garantir que eles funcionem com a eficiência e acessibilidade que se espera da digitalização. A digitalização não é um luxo, é um pilar essencial do funcionamento do Estado moderno.

Para que Angola avance é preciso investir não apenas em tecnologia, mas também em infra-estruturas, formação e, especialmente, na integração dos sistemas. Muitas instituições públicas operam com bases de dados isoladas, dificultando a interligação de serviços e impedindo que a informação flua de forma eficiente. Se um cidadão precisa fornecer os mesmos documentos várias vezes para diferentes entidades, então a digitalização não está a cumprir o seu papel.

O investimento em modernização administrativa, apesar de ter aumentado conforme se verifica no OGE 2025, ainda é modesto quando comparado com as necessidades reais do país. Mas o maior desafio não é apenas orçamental, é estratégico. Angola precisa de um compromisso sério com a transformação digital, não apenas como um projecto técnico, mas como uma prioridade nacional.

No final, o governo eletrónico não é apenas sobre tecnologia. É sobre eficiência, transparência e confiança. Acima de tudo, é perceber que o futuro não chega sozinho e que, ao ritmo actual, se o Estado angolano não acelerar, corre o risco de só o alcançar quando já for passado.

**Alexandre Teixeira, Director Financeiro da Easy People

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