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Grande Entrevista

"O Fundo petrolífero vai permitir apoiar as empresas angolanas no sector dos petróleos"

AFONSO CHIPEPE, ECONOMISTA

O economista Afonso Chipepe insiste há vários anos na urgência da criação de um fundo de investimento constituído com o dinheiro da receita da concessionária proveniente da venda de petróleo angolano lá fora. Fala sobre os desafios da economia angolana e aponta o caminho para uma melhor integração de empresas angolanas no sector petrolífero.

Comecemos pela sua vida associativa. É presidente do conselho fiscal da Ordem dos Economistas. Em tempos circulou uma imagem do edifício sede da Ordem degradado e abandonado. Mas há dois meses foram entregues as primeiras cédulas profissionais. A Ordem dos Economistas está a ficar activa agora ou sempre esteve, mesmo com a sede naquelas condições?

Boa pergunta. As cédulas profissionais foram entregues aos membros da Ordem dos Economistas há dois meses. Numa fase inicial, foram entregues, se a memória não me falha, cerca de 5 cédulas, incluindo a minha, é um processo que a bastonária apresentou como sendo a primeira tiragem de células e os outros membros receberão a posteriori, isto se não as estiverem a receber neste momento.

Mas há reclamações sobre a dinâmica da vida da Ordem dos Economistas, o que se passa?

Relativamente à Ordem dos Economistas de Angola, na verdade, temos de lamentar a dinâmica actual. Pensávamos que se poderia dar uma dinâmica diferente já que há diversos objectivos e metas a alcançar. Entretanto, temos uma bastonária que tem outras actividades profissionais que a impedem de dedicar-se a 100% à ordem dando assim o melhor de si.

Há perspectivas de melhoria face às críticas dos associados e da sociedade?

Trata-se de uma situação em que nós, enquanto membros e eu, particularmente, na qualidade de presidente do conselho fiscal, estamos a trabalhar no sentido de fiscalizar, a vida da organização. E nos próximos tempos, mais cedo do que tarde, vamos pronunciar- -nos de modo a ver se podemos dar um outro rumo, uma outra dinâmica. Na verdade, como consequência da fiscalização que vamos fazer e dos relatórios que vamos analisar. Vamos propor uma assembleia geral para analisarmos e ver qual o melhor rumo que podemos dar à Ordem.

A Ordem dos Economistas tem sido chamada a participar nos processos em que o seu expertise é necessário ou foi absorvida pelos comités de especialidade do partido?

Enquanto Ordem dos Economistas temos sido convidados a participar, tanto nas consultas públicas, como nos processos a nível da Assembleia da República e do estado em que o nosso saber é necessário. Especialmente pela Assembleia Nacional nas abordagens referentes ao orçamento geral do Estado. Mas reconheço que precisamos de ter outra dinâmica. Precisamos que a Ordem dos Economistas apareça e que tenha uma maior divulgação das suas actividades e que tenha uma participação mais activa no cenário económico nacional. Vamos trabalhar para que o quadro mude nos próximos tempos.

Quanto à Conta Geral do Estado, estamos em 2023, mas os deputados apenas aprovaram a Conta Geral do Estado de 2020. Isto não coloca em cheque a capacidade de fiscalizar os gastos públicos? É ou não preocupante?

Temos de nos preocupar com os atrasos, obviamente, mas eu estou em crer que a ministra das Finanças terá certamente uma justificativa para isso e a mesma preocupação e que tudo fará para, o mais breve possível, resolver este tema do atraso na aprovação da conta geral do estado. Ouvi que alguns partidos da oposição se mostraram indignados com esse atraso, uma vez que estão a analisar e aprovar contas que já passaram há mais de dois anos.

O que se pode e falta fazer para resolver este tema?

Eu não estou por dentro deste metier, mas o que posso dizer é que o Ministério das Finanças terá de rever as suas políticas, no sentido de que para os próximos anos estes orçamentos sejam aprovados algum tempo depois de terminar o ano ou logo a seguir à aprovação do orçamento em curso. Este é um assunto que deveria estar na mesa da Ordem dos Economistas para darmos também o nosso contributo para a sua resolução.

Em 2013, lançou o Livro Pensar Angola agora. Hoje 10 anos depois os temas que retrata no livro continuam actuais?

Na verdade, o meu livro apresenta muitos problemas, muitas questões, sobre diversos temas. Fazendo uma comparação com o que está a acontecer hoje. Há situações que eu abordei nesse livro que continuam a ser problemas que devem ser resolvidos.

Pode mencionar alguns?

A questão do conteúdo local. Eu no livro frisei a questão da necessidade de financiar as empresas angolanas do conteúdo local, mas não mencionei directamente este instrumento financeiro que é o Fundo Petrolífero como sendo um dos instrumentos importantes para apoio ao empresariado nacional na venda de bens e serviços, ao sector petrolífero.

Recentemente, em entrevista ao Expansão, o PCA da ANPG reconheceu ter ouvido esta ideia na LAC no programa a Hora da AmCham, no painel de petróleo e de gás em que participa. Explique melhor a genesis da sua ideia?

Apresentei pela primeira vez o Fundo Petrolífero há alguns anos, como sendo um instrumento de apoio financeiro às empresas nacionais para poderem desenvolver as suas actividades, uma vez que constatámos que há problemas de acesso a financiamento junto da banca nacional, tanto para as empresas do upstream, ou seja que actuam na exploração e produção de petróleo, quer seja para as empresas angolanas que fornecem bens e serviços ao sector petrolífero em Angola.

(Leia o artigo integral na edição 722 do Expansão, desta sexta-feira, dia 28 de Abril de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)