O baixo valor acrescentado da indústria transformadora em Angola
Até há bem pouco tempo quando se falava sobre os países africanos ricos em recursos naturais, mas incapazes de diversificarem as suas economias, as pessoas tinham como exemplo Angola e a Nigéria. Ora bem, os dados mais recentes mostram que hoje não é aconselhável colocarmos estes dois países no mesmo patamar.
A Nigéria, de um tempo a esta parte, empreendeu um esforço para mudar a sua trajectória, ao passo que a governação em Angola muito pouco fez. Podemos ver que desde 2010 a Nigéria tem estado a aproximar- -se da média do valor acrescentado da indústria transformadora no continente, tendo mesmo em 2018 alcançado e em 2019, 2020 superado essa média.
Angola, por outro lado, de 2002 a 2016 teve em média 4,5%. Entre 2017 e 2020 aumentou para 5,9%. O ano de 2020 foi o melhor desde 2002 tendo alcançado 6,8% (igualando o valor atingido em 2016). Estes dados mostram-nos que o problema não está no continente como um todo.
Vamos ilustrar com um outro exemplo. No período pós-guerra a governação decidiu criar uma classe empresarial forte, porque acreditava-se que o País precisava "de empresários e investidores privados nacionais fortes e eficientes para impulsionar a criação de riqueza e emprego" nas palavras do então Presidente Eduardo dos Santos proferidas na sua mensagem sobre o Estado da Nação em 2013. Tal como em Angola, na Nigéria também tiveram o seu momento de criar essa mesma classe de empresários. Todavia, hoje os resultados são diferentes. Por que razão?
Num outro texto, explicamos que o problema esteve na escolha dos sectores a investir. No período de paz os empresários criados pelo Estado concentraram-se no sector dos serviços, com particular destaque para o sector bancário, com alguns investimentos na indústria de bebidas e cimento. Olhando para o exemplo do empresário nigeriano Aliko Dangote, um dos que mais beneficiou do apoio do Estado na Nigéria, vemos que ele investiu na indústria cimenteira, refinação de açúcar, agricultura (produção de arroz e cana de açúcar), refinação de petróleo (está a montar a maior refinaria em África) e agora acaba de lançar a Dangote Peugeot para montar viaturas na Nigéria.
Que fique claro que para esses investimentos Aliko Dangote tem feito uso de mão de obra expatriada, mas de forma sustentável, conforme explicou em 2019 numa conversa no Forúm sobre Governação em África(1). O caso de Dangote faz-nos recordar um outro exemplo na Ásia, i.e., Chung Ju Yung, o fundador da Hyundai, e a forma como foi capaz de diversificar este grupo empresarial, claro, tal como Dangote, com muito apoio do governo sul coreano na altura. Depois de ter licença para montar uma fábrica de cimento, Chung Ju Yung foi desafiado a montar viaturas na Coreia. Hoje a marca Hyundai é uma das mais conhecidas no ramo automóvel. Este projecto de montagem (numa primeira fase) e posterior criação (fazendo recurso dos centros de pesquisa e educação local) de modelos próprios com um motor original só foi possível graças à disponibilidade de matéria-prima como o aço.
(Leia o artigo integral na edição 666 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)