O que fazer com este aumento do preço do petróleo?
O Executivo do Presidente João Lourenço precisa reconhecer que tem diante de si uma rara oportunidade de fazer deste aumento inesperado das receitas petrolíferas a alavanca para diversificação económica.
O preço do barril de petróleo subiu consideravelmente na semana passada devido à guerra na Ucrânia. Para Angola, uma economia muito dependente das receitas provenientes das exportações de petróleo, estas parecem ser boas notícias. Todavia, não podemos deixar de assinalar que o País também importa muitos bens e serviços de consumo corrente, pelo que, um aumento do preço do barril de petróleo faz aumentar os custos das importações para Angola.
Vale aqui recordar que esta situação acontece quando se verifica um declínio da produção petrolífera em Angola. De facto, segundo os dados do OGE 2022, Angola vai produzir cerca de 1.147,91 mil bbl/dia, depois de ter atingido o pico em 2008 quando produzia 1.896,30 mil bbl/dia(1) .
Este aumento do preço das importações, particularmente dos bens alimentares, acontece numa altura que já se verificava uma pressão para aumento dos preços devido à pandemia da Covid-19. De facto, o relatório "Perspectivas dos Mercados de Commodities" do Banco Mundial (publicado a 2 de Fevereiro de 2022) mostra esse aumento de preço entre 2020 e 2021. O preço da tonelada métrica do milho subiu de 165,47 USD em 2020 para 259,55 USD em 2021, o kilo da carne bovina passou de 4,67 USD para 5,39 USD a carne de frango de 1,63 USD a 2,26 USD, já o kilo do açúcar passou de 1,59 USD a 2,23 USD.
A situação nos mercados globais vai levar algum tempo para estabilizar, se tivermos em conta que a Ucrânia é também um dos maiores produtores de milho e trigo. A governação em Angola não pode continuar alheia a estas mudanças. Pelo contrário, deve agir conforme defendemos no nosso mais recente livro, Covid- -19 em Angola: O Desafio de Repensar o Papel do Estado, no sentido de que a recuperação económica pós-Covid seja alicerçada no sector produtivo.
Na primeira década deste século, o Executivo aproveitou o aumento do preço do barril de petróleo (que coincidiu com o aumento da produção petrolífera) para estabilizar a economia, reduzindo a inflação a um dígito. Isto foi possível através do uso da política cambial como âncora. Todavia, a estabilidade macroeconómica não se traduziu num rápido processo de transformação estrutural e, passado este período de bonança, ficou claro que a governação em Angola não soube aproveitar este bom momento para diversificar a economia.
Hoje apesar da estratégia ser diferente, o aumento das receitas provenientes do petróleo, combinado com uma política monetária restritiva tem ajudado a apreciar o Kwanza face às moedas estrangeiras transacionadas no mercado local, mas a inflação continua alta.
(Leia o artigo integral na edição 664 do Expansão, de sexta-feira, dia 4 de Março de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)