Um dilema chamado ausência de crescimento económico
A fraca diversificação da economia é também um reflexo da falta de visão da governação
Angola experimentou desde 2016 sucessivas recessões económicas, ao mesmo tempo que o Executivo levava a cabo um conjunto de reformas estruturais com o apoio do FMI. Os dados mais recentes indicam que, em 2021, as coisas mudaram e que agora, em 2022, o País poderá ter um crescimento de 2,4% (cf. a proposta de OGE).
À luz desses dados, o discurso político, sempre optimista, sugere que esta nova fase em que o País parece começar a entrar se deve às reformas estruturais realizadas no âmbito do acordo de financiamento ampliado. Todavia, conforme temos defendido neste espaço, é preciso não perder de vista que uma reforma estrutural não leva necessariamente à transformação da estrutura de uma economia. Não existe uma relação de causa e efeito. É aqui que reside a "confusão" de alguns dos experts no Executivo.
Atenção, que não discordamos de que Angola precisava (e vai continuar a precisar) de encetar reformas, incluindo uma verdadeira consolidação orçamental que possa eliminar aquelas despesas supérfluas.
Abrimos aqui um parentesis para explicar que compreendemos que algumas dessas despesas ajudam a consolidar o poder de quem governa, mas é preciso manter os excessos num nível mínimo! Por exemplo, não se pode priorizar a construção de estádios de futebol quando temos fome em algumas regiões de Angola, mesmo tendo terras aráveis e água em abundância.
O preço do petróleo não deixa de fazer milagres em Angola, uma subida faz com que, do dia para noite, a governação retome o sonho de deixar a lista de países menos avançados para passar a figurar como um país de rendimento médio.
Todavia, temos sempre de estar conscientes que o preço do petróleo não é controlado por quem governa. Como tal, é preciso identificar outras formas de crescimento muito mais sustentáveis, inclusivas e acima de tudo, pensando nas gerações vindouras, amigo do ambiente.
Ao constar na recente lista das maiores economias de África, na 9ª posição, o destaque dado pela imprensa local à notícia perdeu de vista o facto de que, num passado recente, Angola já esteve melhor posicionada! Por exemplo a economia angolana já foi maior do que a da Etiópia (a 7ª economia nesta lista).
Durante a década de 90, o crescimento do PIB de Angola e da Etiópia foi muito instável quase que pelas mesmas razões. Angola vivia uma guerra civil e a Etiópia esteve em guerra até 1991. No gráfico 1 (abaixo) é possível notar que em 2004 tanto Angola (11%) como a Etiópia (13,6%) tiveram um crescimento assinalável. A diferença está nos anos subsequentes. Então, como foi que a governação em Angola se deixou ultrapassar?
No início deste século, a Etiópia começou a levar avante um programa sério e consciente de industrialização, que contou com o apoio de países como o Japão, a Alemanha e a China. Essa aposta na industrialização permitiu estabilizar o crescimento económico da Etiópia. Afinal, a evidência empírica mostra que a taxa de crescimento da produção na indústria transformadora está intimamente ligada à taxa de crescimento económico (Kaldor, 1989).
(Leia o artigo integral na edição 662 do Expansão, de sexta-feira, dia 18 de Fevereiro de 2022, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas. Saiba mais aqui)